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domingo, 13 de outubro de 2019

O AMOR DE ANITA E GIUSEPPE GARIBALDI

 

  
  Uma história de amor e guerra
               
                No recente século XVIII as ricas planícies do norte, de Veneza a Milão, estavam nas mãos do Império Austro-Húngaro. O Papa controlava a Itália central de mar a mar. A Itália meridional e a ilha da Sicília eram governadas pelo "Ri Bomba!, assim chamado por mandar jogar bombas sobre os seus súditos. Só no semi-livre Reino da Sardenha governava um rei italiano de nascimento. 
                 Naqueles dias sombrios os patriotas italianos lutavam , sem plano definido, pelos seus sonhos de uma Itália livre e unida. O homem que viria a dirigi-los mais tarde era nessa época ainda um jovem marinheiro que precorria os portos do mediterrâneo. Garibaldi ouviu boatos sobre um movimento clandestino denominado "Itália Jovem", liderado pelo patriota exilado Mazzini. Numa noite escura, em Marselha, procurou esse Mazzini e dele recebeu informações mais seguras sobre o "Risorgimento". 
                Ao jovem marinheiro foi então confiado um papel no plano de Mazzini: o de tirar o trono do rei da sardenha. Cabia-lhe juntar-se à marinha Sarda e, com seus confederados, apossar-se de uma nave e bombardear as fortificações de Gênova. Mas o movimento malogrou totalmente, antes de estourar. Garibaldi escapou de ser preso porque conseguiu atravessar a fronteira da França. Aí soube que uma Corte Marcial o condenara à morte. 


 Exílio e vinda para o Brasil
                 Foi assim que Guiseppe Garibaldi, com apenas 29 anos de idade, tronou-se apátrida. Em 1836 decidiu tentar a sorte no Novo Mundo. No Rio de janeiro obteve uma velha embarcação de 20 toneladas, apresentou-se  para a navegação costeira e batizou-a de Mazzini, naturalmente em homenagem a seu líder patriota italiano. 
               Duas revoluções lavraram, então, no Sul do Brasil. Tendo os estados de Santa Catarina e Rio Grande do Sul declarado sua independência do Imperador do brasil. Garibaldi ofereceu os seus serviços à revolução. Sofreu abalroamento, foi ferido à bala, e até sofreu torturas, mas só conseguiu êxitos reais quando deteve navios mercantes brasileiros e se apossou de seus carregamentos e tripulações. 
               Certo dia, perscrutando a terra com um óculo de longo alcance, o Capitão Garibaldi, avistou uma bela jovem. Imediatamente mandou arriar o seu escaler; descobrira de repente que a marinha necessitava urgentemente de provisões... A primeiro pessoa que encontrou em terra foi o Sr. Ribeiro, negociante de cordoalha, que o convocou para ir à sua casa. A moça que serviu-lhe café era filha do negociante, Anita, 18 anos de idade, a jovem vista através do óculo de alcance, já casada. Apaixonaram-se imediatamente.

                 Ali mesmo Garibaldi pediu a mão da moça. O pai naturalmente recusou, e Anita foi trancada no quarto, com os irmãos montando guarda. Parece, contudo, que os irmãos tomaram o seu partido, pois os namorados começaram a manter correspondência. Certa noite, quando um escaler de pequena marinha rebelde aportou à praia, Anita já se encontrava á espera. Ao por do sol com pé à bordo, abandonava para sempre as praias da segurança. 
               Pouco depois, os navios de Garibaldi em fuga foram bombardeados por três belonaves brasileiras do Império; o impacto lançou Anita sem sentidos sobre uma pilha de cadáveres. Logo que voltou a si, começou a tratar os feridos, enfaixando-os com tiras de sua própria saia; e quando o artilheiro que estava ao seu lado foi pelos mares aos pedaços, ela tomou seu lugar atrás do caminho, sob o comando de seu capitão. Foi essa a sua lua de mel. 
                Anita Garibaldi nasceu em Morrinhos - Laguna - SC em 30 de agosto de 1821. Era casada com \manuel Duarte de Aguiar quando conheceu o guerrilheiro Giuseppe Garibaldi; foi amor á primeira vista e ambos ficaram imediatamente apaixonados. A vida tem dessas coisas inexplicáveis. 
               Giuseppe Garibaldi estava decidido voltar para a Itália levando Anita consigo, mas sua pequena frota foi atacada pela marinha imperial brasileira. Travou-se no mar um combate feroz, do qual Anita, negando refugiar-se no porão do navio, participou ativamente. O navio de Garibaldi foi afundado e a luta continuou em terra. os sobreviventes tomaram o caminho do Rio Grande do Sul. Lutando diversas vezes com tropas governamentais, sempre com a participação de Anita vestida de homem. Além de guerrear ela desempenhava o papel de enfermeira. Finalmente chegaram a Lages - SC, mas as tropas do governo cercaram a cidade e Anita foi capturada pelo Coronel Albuquerque. Correu a notícia de que Giuseppe havia sido morto em combate; Anita foi liberada e encontrou o marido vivo em Vacaria - RS.
                 Os combates continuaram e Anita, apesar de grávida, luta bravamente. 
                 Já em terras gaúchas, foram abrigar-se  nas ruínas de uma fazenda abandonada, onde Anita teve seu primeiro filho que recebeu o nome de Menotti, que mais tarde se tornaria herói lutando ao lado do pai na guerra franco prussiana. Três meses depois, através das florestas montanhosas, fugiram para o Uruguai. A pequena família fixou residência na Capital |Montevidéu. Ali encontrou paz por algum tempo. Eis que o Uruguai foi invadido pelo ditador Rosas, da Argentina. Cindo anos mais tarde o Exército Argentino ainda estava paralisado nas cercanias de Montevidéu. Rosas culpava um "bando de demônios" de camisas vermelhas - os combatentes de Garibaldi. Embora em número bem inferior, o bando derrotou Rosas por duas vezes em campo aberto. 
               Esses "Camisas vermelhas" intitulavam-se "Legião Italiana". Eram voluntários arregimentados por Garibaldi para defesa da terra que os acolhera. O uniforme de camisas vermelha se deu porque estavam á procura de roupas e encontraram, num armazém, um lote de pano vermelho salvo de um incêndio. Anita e outras esposas italianas atiraram-se à tarefa de cortar e coser uniformes. A partir desse dia a camisa vermelha foi uniforme de batalhas de Garibaldi e de todos que o seguiam. 
                  Suas incursões garantira a liberdade do Uruguai e retumbaram pelo mundo afora. O comandante recebeu uma espada como homenagem da Sociedade da Nova Itália. Ao passar os dedos pela lâmina afiada, Garibaldi deve ter sentido saudade de sua terra natal. 
                No dia 26 de março de 1842, certificados da morte de Manoel Duarte (ex esposo da guerreira), Anita e Giuseppe oficializaram o seu casamento. Nasceram duas meninas, Uma das quais, Rosa, morreu cedo.  
                Em 1847, vitorioso, Garibaldi volta à Itália, desembarcando em Gênova. A fama do casal já chagara à Europa e os dois são aclamados por grande multidão. 
                  Garibaldi decide voltar e lutar pela causa da pátria que, naquele momento estava dividida em numerosos estados independentes e oprimidos pelos austríacos. 
              Assim, em 1848 Garibaldi pisou o solo italiano mais uma vez, com 60 Camisas Vermelhas. A sentença de morte ainda pesava sobre sua cabeça. Foi, porém, recebido com aclamações do povo e um apelo cordial do rei da Sardenha, que se via ameaçado pelo imperador da Áustria. 
              Anita, primeiro instala-se em Nice, na casa da sobra. Mas sente falta do marido. 
              Quando o rei recusou a da-lhe uma patente no exército, Garibaldi dirigiu seus Camisas Vermelhas num ataque independente com os austríacos. Quando as tropas regulares do rei foram derrotadas perto de Milão, e a Sardenha pediu paz, a pergunta de Garibaldi foi: 
              - E agora, onde vamos lutar? 
               Anita junta-se novamente ao marido. O cerco a Roma falha e os garibaldinos são obrigados a recuar para os montes Apeninos. 

               Anita adoeça, mas não se separa do marido. Quase agonizante, é transportada para a fazenda do Marques de Garibaldi, em San Alberto, onde, longe do marido, morre de febre tifoide no dia 4 de agosto de 1848. Mais tarde, no local onde foi sepultada, o governo italiano manda erguer-lhe uma estátua. Era sua homenagem à mulher que foi mãe, amante, soldado e esposa e, como o marido, recebeu o título de "heroína dos dois mundos". 
                O povo insurgia-se, o Papa fugira indo pedir proteção ao rei Bomba de Nápoles. Depois de 1800 anos, renascia a República Romana, outrora tão gloriosa. Contra ele enfileiravam-se não só o Império Austríaco, o Rei Bomba e a Espanha, mas agora também a França, pois Luiz Napoleão desembarcou subitamente na costa, perto de Roma, com 10.000 homens de sua tropa de elite.
                 Em defesa de Roma correu Garibaldi, seguido dos seus Camisas Vermelhas. Atrás ia a infantaria, em sua maioria composta de adolescentes, elegantemente uniformizados de azul escuro com caudas de galo ondulando nos chapéus. Depois iam civis, operários com os seus eventuais de trabalho, camponeses, pequenos comerciantes, velhos e crianças.
                 Esse estranho exército, composto de uns 2.000 homens foi destacado para defesa do Monte Gianícolo, fora dos muros da cidade. No dia 30 de abril, Garibaldi avistou 7.000 brilhantes baionetas francesas que avançavam. Numa manobra ousada, investiu com seus homens ocupando posições entre as roseiras e pinheiros dos jardins das vilas circunvizinhas. A "Batalha das Rosas", durou do meio dia até o escurecer, quando então um general francês, pálido e trêmulo, suplicou um armistício. 
                Surgindo do sul, vieram então as tropas do rei Bomba, e Garibaldi recebeu ordens de retardá-las. Em vez disso, repeliu-as para o território napolitano.
                Os franceses novamente assentaram seus canhões contra o Monte Gianícolo e mais uma vez os garibaldinos foram destacados para defesa. Durante um mês os italianos repeliram ondas de ataque, sob constante bombardeio. 
                  A República de Roma finalmente rendeu-se, mas Garibaldi, jurou que, instado nas colinas, continuaria a luta. Seguiram-no 4.000 homens envergando todos as famosas Camisas Vermelhas que agora os marcavam para a morte... ou para a glória. 
                 Essa retirada através da Itália é até hoje uma epopeia nacional. Havia uns 65.000 homens espalhados em rede para capturar esses patriotas sem pátria. Ziguezagueando pelos ásperos Apeninos; Garibaldi conduziu seus homens através das malhas dessa rede. Parecia estar em toda parte ao mesmo tempo, inspirando assim, rumores de que havia vastas forças sob seu comando. A verdade era que, ao fim do escaldante mês de Julho, apenas 1.500 homens desesperados se encontravam, com seu comandante, diante das portas de S. Marinho.  
                Durante séculos, essa pequenina república dera asilo a todos os refugiados políticos. Garibaldi pediu abrigo para suas tropas exaustas. Mas ele próprio não se demorou,  nem tampouco um punhado de bravos. Nessa ocasião Anita ainda estava viva e o acompanhou.  Fugiram através das linhas inimigas e, atravessando o Rubicão, como César o fizera, atingiram a costa perto da foz do rio Pó. Mais pouco e poderiam navegar para Veneza. 
            Mas durante todo aquele último dia, Anita havia delirado, atacada de malária. Garibaldi carregou-a até os barcos que os aguardavam, mas não tardou que os austríacos avançassem vindos da praia. O navio de Garibaldi escapou, mas foi logo desviado para terra;  Garibaldi carregou a esposa agonizante para as sombras dos pinhais. à noite Anita faleceu, Foi sepultada junto às dunas de areia. 
                 Assim findara, pensou o mundo, o belo sonho de uma Itália livre e unida. Entretanto,  em 1849, o trono da Sardenha passou para o jovem Vitor Emanuel II. Garibaldi veio a saber no exílio que o novo rei estava disposto a permitir o seu regresso á pátria. Assim, em 1855, o viandante comprou uma fazenda na pedregosa ilhota de Caprera, à altura da Sardenha, onde passou a viver uma vida serena e solitária. 
              Mas por toda a Itália a esperança acelerava-se como um rufar de tambores. O Primeiro Ministro nomeado pelo jovem Rei da Sardenha foi o Conde Covour, que veio a conseguir que napoleão, imperador da França, se aliasse à Itália em uma nova guerra com a Áustria. Quando Garibaldi conversou com o Conde, compreendeu que os italianos se uniram sob uma monarquia reinante. A partir de então serviu à coroa e, assim, à sua pátria.
       O Sul, porém, ainda continuava acorrentado. Ali Francisco, o filho de "Bomba", abarrotara as prisões de patriotas.  Cavour e Vitor Emanuel não ousavam levantar o dedo contra o Rei Francisco. As condições eram: Garibaldi teria de arranjar seus navios e recrutar seus voluntários. Se fracassasse pagaria sozinho; se vencesse a vitória seria do rei.
             Recrutou suas forças clandestinamente. Eram apenas 1.00 - "Os Mil".  Audaciosamente desembarcaram na Sicília e desfraldaram a bandeira verde, branca e vermelha da liberdade italiana. 
                Os Sicilianos uniram-se a eles. Cortam linhas telegráficas, dominaram sentinelas, interceptaram bastecimentos, desbarataram o exército do rei Francisco e conduziram "Os Mil", por trilhas escuras, rumo ao seu objetivo: Palermo. 
                 Mas nas montanhas bravias "Os Mil" foram de súbito surpreendidos por 4.000 homens das bem adestradas tropas reais. Lutando ferozmente montanha acima, Garibaldi via seus homens caírem feridos em toda a extenção da encosta, entre eles o jovem Menotti, o filho que Anite lhe dera nos pampas do Brasil. E uma pergunta angustiosa repercutiu através dos montes ensanguentados: 
                 - General, que fazemos?
                 - Aqui, ou construímos a Itália ou morreremos! - respondeu Garibaldi. 
                 Seus homens ouviram, o inimigo ouviu, a Itália ouviu, o mundo inteiro ouviu. Saltando para frente, espada desembainhada, Garibaldi comandou a carga e pôs em fuga uma força muito superior.  
                   Outro exército foi mandado ás pressas para o campo de batalha para enfrentar  Garibaldi. Deixando acesas as fogueiras de campanha para despistar o inimigo, Garibaldi passou despercebido por trás dele e entrou como um furacão em palermo. Em três dias de lutas de rua capturou uma cidade defendida por 20.000 soldados. Depois atravessou o Estreito de Messina e, marchando rumo ao norte, foi conquistando o reino do rei Francisco, impelindo na sua frente um exército de 1000.000 homens. 
                A Itália inteira era uma fogueira de entusiasmo, e a 7 de novembro de 1860 o primeiro rei da Itália, com Garibaldi a seu lado, entrava triunfante em Nápoles. 
                 Generosamente Vitor Emanuel cumulou o libertador de ofertas; um título, em castelo. Garibaldi recusou todos os prêmios. Servir à Itália fora a sua recompensa. 


                  

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