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quarta-feira, 23 de outubro de 2019

HISTÓRIA E LENDA DO TABACO (fumo)


                 Uma bela lenda, muito antiga, melhor nos fará compreender como o Tabaco surgiu entre os homens e, neste suposto bem, nos proporciona o mal que ocultamente nos causa. 
             O velho Maomé ia passando com sua carana por uma longa estrada, quando foi surpreendido por uma serpente que lhe disse: 
                    - "Maomé, tenho frio, e morrerei se não conseguir me aquecer".
                   Ouvindo essas palavras, o profeta desceu e apanhou a serpente, colocando-a dentro de suas vestes, bem perto do peito. Depois que a cobra se aqueceu, disse ao profeta: 
               - "Lamento, Maomé, mas agora que já estou bem aquecida quero picar-te". 
               Admirado com aquela ingratidão, Maomé retorquiu-lhe: 
               - "És muito ingrata! tinhas frio e eu te aqueci junto ao meu peito e agora que te sentes bem confortável, queres picar-me? "
             Sem dizer uma única palavra a cobra picou-o no braço, saltando a seguir. Então Maomé, sentindo-se picado, sugou o local em que a serpente lhe inoculara o veneno e, logo após, cuspiu o veneno, junto com sua saliva, na terra. Momentos depois, naquele lugar nascia o primeiro pé de tabaco. 
                Realmente o tabaco possui o veneno da serpente e a saliva do profeta. Vício social, o tabaco já dominou o homem, as mulheres e as crianças adolescentes e, em breve dominará toda a humanidade que, cada dia mais ávida por prazeres viciantes o transformou num ídolo. 

algumas informações sobre o tabaco
                  Erroneamente, costumamos chamar o tabaco de fumo. Na verdade o tabaco é o nome de uma planta da família das Solanáceas, e cujas folhas, depois de secas, são empregadas de diversas maneiras, sendo a mais comum o fumo ou fumaça. 

                O fumo, propriamente dito, é uma mistura de gases, vapor de água e partículas mais ou menos tênues, que se desprendem durante a combustão de grande número de substãncias existentes nas folhas do tabaco. As folhas dessa planta, que erroneamente chamamos de fumo, tem enorme capacidade de sedução, tanto pelo sabor como pelo odor, ora como distração ora como vício, embora causando maior dano ao nosso organismo. 
             É o irmão mais benevolente do ópio, e não nos deixa de arrastar aos grandes sofrimentos que todo o vício impõe, desde a economia, obrigando-nos à sua aquisição diária, prejudicando enormemente a saúde, que muitas vezes se abala pelo abuso sempre crescente. E ainda usamos quando, já sensível o nosso organismo, por uma causa qualquer, teimamos, procurando adaptá-la à nossa vontade, sem nos incomodarmos com sua maléfica ação. É o traidor que nos agrada pela sua traição, é uma espécie de Santo Demônio, que nos deleita e ilude, na falsa suposição de uma ventura, mas que, lentamente nos vai intoxicando com seu veneno disfarçado no fumo que se evola, e com ele nosso pensamento. 
                Antes da descoberta da América, o tabaco não era conhecido na Europa. Quando Colombo desembarcou em São Salvador, alguns indígenas puseram-lhe aos pés longas folhas de cor escura que emanava forte aroma. 
              Durante a exploração da Guanabara, os franceses de Villegaignon viram, no interior do país, indígenas que tinham na boca rolos de folhas secas, aspirando-lhe ávidamente a fumaça. 
              A planta do tabaco atinge, geralmente entre um  e dois metros e apresenta haste cilíndrica, folhas alternadas, simples, quase sempre fixas, algumas vezes pecioladas, de várias grandezas e formas; as inflorescências são terminais. O fumo é uma cápsula oval ou globosa, contendo pequeníssimas sementes. Seu nome científico é Nicotina Tabacum, podendo reunir-se suas espécies em três grupos: Nicotina Tabacum, Nicotina Rustiva e Nicotina Petunioides. A espécie mais importante, da qual provém a maior parte do tabaco comercializado, é a Nicotina Tabacum, que deu origem às variedades mais notáveis, conhecidas pelos nomes de Nicotina Virgínia, Nicotina Brasilienseis, Nicotina Havanensis, Nicotina Macvrophilla, Nicotina Lancifolia,
e as numerosas formas e  espécies cultivadas. 
              Comercialmente falando, chamamos de Tabaco as folhas convenientemente preparadas de algumas espécies de planta do gênero Nicotina, das Solanáceas, originárias do nosso continente e introduzidas na Europa, em meados do século XVI, sendo hoje cultivada em quase todo o globo, principalmente nas Américas, nas Antilhas, na Índia Oriental e na Ásia Menor. 
              A composição química das folhas de tabaco varia muito segundo a planta de que deriva, da procedência, dos métodos de cultura e dos cuidados dispensados em seguida à sua colheira e depois da mesma. Em todas as folhas de tabaco, encontramos celulose, substâncias albuminoides, amigo, assucar, substâncias gordurosas, nicotina e pequeníssima quantidade de outros alcaloides (nicoteína, nicotina, nicotelina), amoníaco, ácidos orgânicos e sais (citrato, oxalato e potássio), nitratos, resinas, cera e óleos etéreos. A substância indicada como nome nicozianina ou cânfora de Tabaco é uma mistura dos compostos de nicotina com vários ácidos orgânicos. 
                  De todos os componentes do tabaco, é a nicotina o mais característico, encontrando-se nos estados de sais orgânicos e principalmente devido à sua ação nociva sobre o sistema nervoso e sobre o coração. A quantidade de nicotina contida nas folhas de tabaco, tal como o encontramos no comércio, varia segundo os tipos, podendo oscilar de 0,5 a 10% e, mais comumente, de 1 a 8. Verdade é que uma parte notável de nicotina se elimina pelos diversos processos por que passa antes de seu uso, sendo pequena, então, a quantidade contida nas diversas formas empregadas para o consumo, como vício. O Brasil possui as melhores e mais favoráveis condições para a cultura de Tabaco. Nasce espontaneamente em seu solo, crescendo, em muitos de seus pontos, com a mesma liberdade e abundância que qualquer erva do campo. Não requer condições especiais de clima, uma vez que esteja sujeito a geadas. Todavia, numa temperatura média de 25ºC, atinge, o tabaco, sua maior perfeição. O solo que mais lhe convém é o argiloso, rico em sílica e húmus. 
             Cresce em todos os estados do Brasil, embora levem mais vantagem os estados da Bahia,Minas Gerais, Goiás, onde é grande sua cultura, e, em menor escala, São paulo, Mato Grosso, Santa Catarina, Pernambuco, alagoas, paraíba, Rio Grande do Sul, Ceará, e mais alguns estados. 

                Com a chegada dos portugueses ao Brasil, já o uso de tabaco era conhecido dos índios, o que despertou, mais tarde, a atenção do pregador André de Thevenet, membro da expedição de Villegaignon, existindo dele uma minuciosa descrição sobre o uso que do tabaco faziam os selvagens da região. Tal fato causou impressão aos primeiros europeus chegados ao Brasil, sendo, logo, por eles enviados pés de tabaco, para serem plantados em Lisboa, havendo, ainda, documentos que provam a sua cultura com sementes levadas daqui, em 1559, no jardim de Jean Nicot, embaixador francês na capital portuguesa. Do nome desse diplomata foi que o grande naturalista Lineu tirou a palavra nicotina, para designar um gênero botânico que compreende grande  número de variedades. 
               Quanto aos centros de cultura é realmente o estado da Bahia, por grande diferença, o mais importante. Na época da descoberta do Brasil, em 1500, segundo provas irrefutáveis, já havia cultura de tabaco nesse estado. O tabaco baiano é principalmente empregado na fabricação de charutos, que se tornaram famosos no mundo inteiro. Os municípios mais "charuteiros" são Cachoeira de São Félix, onde estão instaladas fábricas moderníssimas. Nem toda produção de tabaco baiano, porém, é usada exclusivamente em charutos, pois também é empregada em cigarros e fumo em corda (em rolos). 
              Goiás também produz grande quantidade de tabaco, principalmente para cigarros, sendo ele grandemente apreciado, devido às suas qualidades aromáticas. 
                O Brasil produz, anualmente, mas de 554 milhões de quilos de tabaco e somente os Estados Unidos e a Rússia lhe superam a produção. Não há estado do Brasil onde a cultura de fumo não disponha dos mais preciosos elementos para se conseguir produtos de qualidade superior e fartos rendimentos. Na Bahia, o fumo é cultivado em 81 municípios. 
                 Com o tabaco e suas folhas preparadas, diversos produtos se obtém para consumo dos que se viciam, constituindo objetos de comércio importante. Charutos, cigarros, rapé, fumo em rolo, constituem, em nosso meio, artigos cuja matéria prima é o tabaco, em suas folhas inteiras, picadas, em delgados fios ou reduzidos a pó para aspiração nasal. 
                O tabaco pode ser adulterado com folhas diversas, de mistura com folhas verdadeiras. Pode conter, além disso, quanto para aspiração nasal (rapé) substâncias estranhas, tais como cromato de chumbo, areia, pó de madeira, terra, etc. Tais adulterações podem ser, umas descobertas pelo microscópio e, outras, substâncias minerais, pela análise das cinzas. Quanto ao rapé, a mais comum é o chumbo, proveniente de seu empacotamento ou da caixa que o conserva, tabaqueira, quase sempre com esse metal forrada, o que tem dado lugar a lentas intoxicações, desafiando, muitas vezes, a ciência e a sagacidade do médico. 
             O tabaco, entretanto, entrou oficialmente no mundo civilizado não como objeto de prazer, mas sim como medicamento, tanto é verdade que se chamou,a princípio, "erva-do-embaixador" e "clysterium nasi".  Era usado para casos de torcicolo, fastio, doenças da pele,m asma, bronquite, malária e tantos outros achaques. Sua fama de medicamento durou bastante e, ainda em 1665, na Inglaterra, quando ali grassava a terrível epidemia de peste bubônica, os estudantes eram obrigados, antes de entrar em aula, a fumar tabaco como desinfetante. Aqui mesmo, no Brasil, muita gente costumava por pedaço de fumo em corda na cavidade do dente cariado para aliviar dores. 
                Quem introduziu o tabaco na Inglaterra foi o navegador Francis Drake e, depois dele, Walter Releigh conseguiu torná-lo conhecido na corte. E com Releigh ocorreu um fato curioso. Enquanto estava fumando placidamente, em casa, um rudimentar charuto, chamou um servo para trazer-lhe cerveja. O criado, ao ver sair fumaça da boca e do nariz do patrão, despejou-lhe a cerveja na cabeça e saiu a gritar: - "Fogo! Fogo!" O cigarro apareceu só muito mais tarde, os viciados e os elegantes preferiam aspirar Rapé ou fumar cachimbo. 
              Na Holanda, em 1570, fumou-se pela primeira vez na Europa, em tubos de folha de palmeira. No reinado de Luiz XIV, na França, havia penas severíssimas a quem fosse apanhado fumando. Na Abissínia, a "Igreja Copta" publicou um edito, advertindo que os fumantes teriam as mãos cortadas. 
              Outra história pitoresca a respeito do tabaco e o nascimento do cigarro, é relatada desde a guerra turco-egípcia, em 1832, precisamente durante o cerco de São João de Acre. Era uso, então, colocar nos canhões turcos cargas de pólvora envolta em papel-manteiga. Certo dia, um muntaz (cabo) teve seu narguilê quebrado, e lhe veio a ideia de enrolar o tabaco naquele papel manteiga. Ibraihn paxá, do Egito, que comandava o cerco soube do caso e achou aquilo original. Por isso, prometeu, aos sábados, dar aos combatentes,  todo aquele papel e o tabaco que quisessem, se lhe abrissem rapidamente uma brecha nas muralhas da cidade sitiada. Dois dias depois, a brecha estava aberta e Ibrahin manteve a promessa. 
              A involuntária invenção passou, em seguida, para a Inglaterra, onde encontrou acolhida favorável de todos os fumantes. E também as damas passaram, aos poucos, a fumar, provocando, de início, verdadeiros escândalos. Na América, chegaram até a prendê-las, quando compareciam em público de cigarro na boca. 
          Hoje existem máquinas poderosas, verdadeiros prodígios de técnica, capazes de confeccionar milhares de cigarros por minuto, controlando-lhes o peso, o grau de umidade, a perfeita execução e empacotamento. os cigarros, atualmente, representam, em todo o mundo, 45% do consumo do tabaco, ao passo que 20% pode ser atribuído aos charutos e 35% para cachimbos. 
           Com o desenvolvimento da tecnologia moderna, surgiram os cigarros eletrônicos prometendo uma forma de vício menos prejudicial à saúde do fumante. Mas os estudos mais recentes apontam que este  novo vício pode ser ainda mais prejudicial do que os tradicionais vícios do tabaco. 





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