A história que bem poucos franceses conhecem.
Paris é a capital mais charmosa e visitada em nossos dias. Sua história antiga é bem interessante e vale a pena conhecer.
Situava-se no coração de um vale encantador, no meio de uma crista de declives enriquecidos por Ceres e Baco.
Possuía dois subúrbios, capazes de despertar a inveja de muitas cidades da época que se estendiam à direita e à esquerda. A bela ilha era ligada por meio de pontes de pedra. Inúmeros barcos, cheios de mercadorias e riquezas circulavam pelo Rio Sena.
Defendida contra os inimigos pelas águas do rio Sena, e pelos grandes pântanos, que se estendiam pelas suas margens, a cidade, que se denominava, naquela época, Lutécia, era um ótimo centro para navegação fluvial e ponto provisório de coligação entre a região dos Celtas e a dos Belgas; e quando os romanos conquistaram a Gália, apresentaram-se a dar-lhe ordem e, em troca da liberdade perdida, a paz e o bem -estar. A "Lutétia Gallorum" cresceu em habitantes e extensão e, embora a capital da província Lugdunense fosse Sens, cônsules e prefeitos elegeram para sua residência a cidade dos Parisii.
O rio Sena corre placidamente pelo coração de de Paris. Lentamente insinuando-se por sob as pontes, contemplando os jardins do Trocadero e das Tulherias, titubeando entre os bulevares, rodeando o majestoso conjunto do Louvre, acompanhando em surdina os cantos dos estudantes do "Quartier Latin", e, finalmente circundando, com sua humilde carícia, a pequena faixa onde surge a magnifica catedral de Notre -Dame, na ilhota da Cité, hoje ligada à terra firme por numerosas pontes e na qual viviam, aos tempos de César, os Parisii.
Do acampamento romano, o novo núcleo fez seu sistema e eixo, e traçou a nítida determinação das ruas e estradas; floresceram à margem esquerda do Sena, os foros e os templos, mais intensa se tornou a navegação fluvial, enquanto o antigo nome de Lutécia ia sendo substituído pelo de "Oppidum Parisiorum".
A Lutécia Gallorum estava situada numa ilha do rio Sena, aqual, mais tarde, passou a ser chamada "Cité". Alki chegaram as tropas de César vindo de Roma, comandadas por Libieno. Este episódio vem narrado pelo próprio César, em seu livro "De bello gallico".
Fecunda de mártires foi a cidade quando, no século I, a "Novena de Cristo" se espalhou por toda a Gália; longas filas de vítimas foram encaminhadas, nos tempos da perseguição, para uma colina que surge á direita do rio. Hoje, aquela colina, abençoada pelo sangue dos inocentes, está recoberta de casas e é um dos bairros mais populosos da cidade. Centro de reunião dos artistas e dos homens do povo, talvez poucos dos parisienses saibam que o bairro de Montmartre, um dos mais pitorescos da Paris moderna, tem seu nome derivado daquele antiquíssimo de "mons martyrum".
Embora a cidade se houvesse ampliado, a sede da autoridade militar e civil permaneceu na parte mais antiga. No século II, o imperador Constâncio Cloro, a quem fora confiada a prefeitura de todas as Gálias, ali fez construir seu faustoso palácio.
Mas eis que, a partir do século IV, as pacíficas populações das Gálias foram convulsionadas pelo ferro e pelo fogo da invasões barbáricas. Germanos, Visigodos, Vândalos, Hunos, alternaram-se no solo francês, tudo destruindo e arrasando, e os romanos, impotentes ante aquele ímpeto sanguinário, foram obrigados a abandonar a doce terra que, graças a eles, conhecera a propriedade material e os limites de uma civilização superior.
Os Hunos, guiados por Átila (ele era conhecido como "o Flagelo de Deus") chegaram até Paris, mas não a violaram. A uma mulher, Genoveva (santa), a cidade deveu sua salvação.
Quase 50 anos depois, o filho de Chilperico, Clofoveu, fundador da "dinastia merovígia". Ele escolheu Paris para capital de seu reino, instalando as Corte no antigo palácio de Constâncio Cloro. Ele foi o primeiro artífice da unidade do reino da França. Após numerosas e clamorosas vitórias sobre os inimigo, converteu-se ao catolicismo (havia desposado a católica Clotilde) e, em 497, foi coroado rei em Reims.
Iniciou-se, então, para a cidade, uma era nova, conheceu outra civilização e contribuiu também para formá-la, gozou dos faustos e das desventuras dos reis que se sucederam e, com toda a França participou das vicissitudes que, através dos séculos, foram aparecendo, terminando com a formação de um grande reino unitário, cuja capital ficou sendo Paris. Cada rei quis deixar à capital e aos parisienses um testemunho de seu próprio iluminado governo e do seu gosto inato pelas artes. Surgiram, assim, em todos os pontos da cidade , os maravilhosos monumentos que fizeram de Paris, depois de Roma, a cidade mais bela da Europa de então. Felipe Augusto deu grande incremento às instituições universitárias e aos recursos comerciais, apoiando, em plena Idade Média, a classe burguesa. Luiz IX construiu a Universidade de Sorbonne, (uma das mais antigas, com as de Bolonha e Toledo) e a Santa Capela, onde foi custodiado um dos espinhos da coroa de Cristo. Felipe, o Belo, em 1302, com a convocação dos Estados gerais, admitiu o povo parisiense a decidir dos negócios do Estado. Luiz XII, que foi cognominado o "pai do Povo", protegeu as artes, o comércio, e melhorou a justiça. Francisco I foi um dos grandes protetores das artes e das letras (e realmente chamou à sua corte Leonardo Da Vinci, Cellini e Andréa del Sarto, fundou uma segunda universidade, o Colégio de França e deu incremento à imprensa).
Em Paris, por ordem do rei Carlos IX, ocorreu o massacre dos Huguenotes (Noite de são Bartolomeu) em 24 de agosto de 1572. Sobre o poderoso reina de França, projetava-se lívida, a sobra das lutas fratricidas.
De seus reis, Paris aprendeu o valor da cultura e da liberdade; deles a burguesia adquiriu a consciência de sua capacidade, compreendeu que era sobre ela que se concentrava todo o poder e a riqueza da França. E foi essa cidadania parisiense que não conheceu, como as repúblicas italianas e as cidades dos Países baixos, o regimento autônomo do governo comunal, foram esses súditos, que por mais longo tempo sofreram as rédeas da monarquia, que ensinaram aos países da Europa e da América os princípio de um governo republicano e democrático. E ensinaram-nos com o sangue derramado pelas ruas de paris, quando, brutal e vandálica como todos os movimentos provocados pela exasperação da alma popular, deflagrou a Revolução Francesa.
A Revolução Francesa
Esplêndida se tornou Paris durante o reinado de Luiz XIV: a cidade fora enriquecida de palácios e monumentos, jardins luxuriantes de vegetação floresceram às margens do Sena, poetas, pintores, cultores de letras acorreram de toda parte, atraídos pelo fausto da Corte. Não satisfeito ainda com o palácio de seus avós, o "Rei Sol" mandou construir o de Versalhes, no lugar onde ficava o cassino de caça de Luiz XII. Sobre aquele terreno, outrora paludoso e insalubre, situado a poucos quilômetros de paris, formou-se, como que por encanto, uma pequena cidade, circundada de maravilhosos parques e jardins, alegrada e animada por espelhos de lagos e chafarizes, e gargalhar de regatos. Encontraram asilo, naquela cidade de sonho, nada menos que dezoito mil nobres e literatos. Mantida a expensas do povo ativo e laborioso da vizinha Paris, a Corte entregava-se ao ócio, a jogos e festas, alternando as caças com récitas de gala.
Não era mais o tempo em que o povo parisiense podia, nas assembleias, pesar com sua opinião nas decisões do rei. Luiz XIV impusera seu domínio absoluto.
- Isso é legal porque eu quero! - L'Etat c'est moi! (eu sou o estado) - eram suas frases preferidas. E o que o Rei Sol dizia, perante todos os nobres conselheiros, na pomposa corte de Versalhes, onde viviam como pássaros em gaiola de ouro, era mesmo lei, e a eles só restava obedecer.
Cresceram as injustiças e as vexações, choveram as taxas e os impostos, diminuíram os direitos do bravo povo de França, durante os reinados de Luiz XV e Luiz XVI; e, se Luiz XIV, embora na dureza de seu governo, havia exercitado uma iluminada política exterior, seus sucessores não foram capazes de adornar-se ante os olhos dos súditos com qualquer mérito particular.
A burguesia de Paris, que mais de perto pudera ver p esfacelamento da Corte, deu o exemplo. Atrás dela movimentaram-se as outras regiões da França, arrebatadas pelo mesmo vendaval revolucionário. O Terceiro Estado, que abrangia os operários, os artesãos, os trabalhadores rurais, os homens de profissões liberais, os comerciantes, e que contava em seu seio a fina flor dos intelectuais, homens ilustres, cultos, estudiosos, espíritos amantes da justiça, reivindicou, afinal, seus direitos postergados.
Foi a Queda da Bastilha, em 14 de julho de 1889, o sinal para a revolta. O povo tomou de assalto a Bastilha. A velha e tétrica prisão, onde enlanguesciam os primeiros espíritos revolucionários, era o símbolo do despotismo. A seguir, vieram os turbilhonantes dias de outono, quando a massa do povo parisiense, onde havia milhares de mulheres famintas, avançou sobre o castelo de Versalhes e, após invadi-lo, obrigou o rei a voltar a Paris. A Revolução Francesa estava em marcha.
Quando, em 12 de setembro de 1792, numa atmosfera ainda rubra de lutas e sangue, foi proclamada oficialmente a República Francesa, e os princípios de um governo democrático, segundo o qual os homens devem ser livres e iguais em seus direitos de liberdade, de propriedade, de segurança pessoal e de resistência á opressão, foram enunciados, pela primeira vez, no antigo berço da monarquia francesa, o mundo inteiro compreendeu que os dramáticos dias que os cidadãos de Paris haviam vivido, não pertenciam somente à história de uma cidade, mas assinalaram o advento de uma nova ordem de coisas, um novo mundo. A família real, no cárcere, dá seu último adeus a Luiz XVI, condenado á morte. Maria Antonieta, aquela que tinha sido a frívola "Delfina de França", o seguiria logo depois, demonstrando, à hora de subir ao patíbulo, altivez de firme coragem.
Depois do sangrento período da Revolução, surgiu o astro de napeoleão Bonaparte, que conduziu Paris aos fastígios de outrora.
Hoje, o povo de Paris festeja a data de 14 de julho com uma alegria e pompa sem par, e danças e cantos se improvisam pelas ruas da "cidade-luz".
Em 1952, Partis comemorou o seu segundo milênio, com festejos poucas vezes vistos em qualquer outra parte do mundo.
E as águas do Sena continuam acariciando serenamente a pequena ilha onde surgiu Lutécia. Palpita a vida parisiense na "Cité", totalmente reconstruída e modernizada. Todavia, quando alguém vai flanando pelas suas belas alamedas e pára de repente, diante do imponente Palácio da Justiça, não pode conter um gesto de emoção. É que o edifício foi levantado exatamente no local em que, em tempos que já vão longe, Constâncio Cloro erigiu seu palácio, onde o primeiro rei francês, Clodoveu, quis que fosse sua mansão. E não será talvez uma advertência para toda a França, essa coincidência, como a lembrar a todos os seus súditos que somente a Justiça tem direito de reinar como soberana incontestável.
Apenas algumas palavras para finalizar
No Brasil também temos os nossos inúmeros reis privilegiados; temos os nossos palácios em Brasília; temos nossos juízes e políticos privilegiados que só estão preocupados com suas mordomias e altos ganhos nada republicanos.
Será que construir Brasília - O Quartel General das Mordomias e Corrupções - não foi um erro?
Porque temos de manter tantos gabinetes luxuosos, apartamentos funcionais, carros oficiais com motoristas e tantas outras coisas?
Será que teremos que fazer a nossa Revolução Brasileira à Francesa?
A família real inglesa gasta por ano (em nosso dinheiro) poco mais de quatrocentos mil reais; já a presidência do Brasil gastou no ano de 2018 cerca de um bilhão e trezentos milhões de reais. E isso acontece em todos os níveis da administração pública.
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