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domingo, 20 de outubro de 2019

HISTÓRIA DA BATATA


               Todo começa há mais de 400 anos numa região montanhosa da América do Sul. Foi na época em que os Espanhóis tinham acabado de massacrar a civilização Inca no Peru. 
               Desde o dia em que os conquistadores espanhóis puseram o pé no Peru, conheceram a existência da batata. Evidentemente que naquele momento ninguém poderia imaginar que esse tubérculo, hoje fartamente empregado em toda a culinária mundial, a partir da América do Sul, no decorrer dos séculos, iria se espalhar por todos os cantos da terra. 
           Foi precisamente em 1538 que um espanhol conseguiu, pela primeira vez, realizar a ascensão dos Alpes. No cimo do planalto do Peru ele descobriu batatas cultivadas pelos índios; esses não cozinhavam os tubérculos, mas ao contrário, congelavam-nos, secando-os em seguida por processos locais. Este alimento seco era muito empregado pelos índios dos Alpes, e ainda o é até hoje; com efeito, o milho, alimento habitual dos índios, cresce mal nessas regiões elevadas, de clima muito frio. 
          No tempo da conquista espanhola, os Incas armazenavam enormes quantidades de batatas secas para abastecer seu exército e população civil quando faltavam alimentos. A cultura da batata - de diferentes variedades - era efetuada em grande escala pelos índios agricultores que usavam estrume e irrigavam suas terras. 
               Foi provavelmente entre 1580 e 1595 que um viajante introduziu na Europa a primeira batata. O tubérculo começou a ser cultivado antes na Espanha, depois passou para a Itália. Por volta de 1588 havia chegado às mãos do botânico francês Charles de Lécluse, intendente dos jardins imperiais de Viena. 
              Segundo os alemães, teria sido Sir Francis Drake que levara a primeira batata para o continente europeu. E tão persuadidos estão desse fato, que até lhe ergueram uma estátua, em cujo pedestal se lê: "A Sir Francis Drake que introduziu a batata na Europa no ano de Graça de 1580". 
               Como se deu frequentemente em alimentos novos, o uso da batata espalhou-se muito lentamente, embora em toda a parte se incentivasse o seu consumo. Sábios escreveram memórias em favor do tubérculo: agricultores procuraram melhorar as variedades; por ocasião de uma recepção oficial, maria Antonieta enfeitou o penteado com flores de batata; Frederico II, rei da Prússia, mandou plantá-la nos jardins do palácio, e seu neto chegou mesmo a ameaçar de punição os camponeses que se recusassem a cultivá-la. 
Com o tempo a batata acabou sendo apreciada. Certas populações pobres do Norte da Europa perceberam que os tubérculos lhes garantiam o que comer. Na Irlanda, onde a miséria era terrível, a batata foi especialmente bem acolhida. 
               A primeira batata trazida do Peru era muito pequena. os "olhos" eram tão profundos que, depois de extraídos, quase não restava mais nada do tubérculo. os primeiros cultivadores de batatas tentaram melhorar essa espécie, mas tiveram, antes, de demonstrar que ela constituía um alimento excelente. Antoine-Augustin Parmentier, primeiro produtor ilustre da "raiz" peruana, certa vez convidou Lavoisier e benjamim Franklin para um  jantar cujo cardápio era composto unicamente de batatas preparadas de diversas maneiras. 
           As espécies de batatas cultivadas naquela época na Europa não eram bastante resistentes ás moléstias. Em meados do século XIX, um americano chamado Goodrich empreendeu a tarefa de criar uma espécie mais forte, trouxe dos Alpes diversas variedades de sementes, e, mediante cruzamentos, obteve uma nova espécie de batata. Mas foram precisos ainda longos anos para aperfeiçoar as diversas variedades cultivadas atualmente. 
             Devastações causadas por insetos puseram freio ao desenvolvimento da nova cultura. Nas vertentes orientais das Montanhas Rochosas, nos estados Unidos, vegetava uma planta selvagem pertencente á mesma família da batata, e havia certo coleóptero, a dorífora, que se alimentava dessa planta "inútil". Mas, assim que se começou a cultivar batata nessa região, a dorífora atacou-a prontamente e não tardou em tornar-se uma praga terrível. 
               Os camponeses da Europa, temendo que a dorífora atacasse também as suas colheitas, recusavam-se a comprar batata proveniente da América. Mas, mesmo assim a dorífora transpôs o Atlântico durante a Primeira Guerra Mundial. Por volta de 1915, ela foi acidentalmente levada para as cercanias de Bordéus. Imediatamente os franceses empreenderam a luta contra esse inseto destruidor. 
         Meio século antes, uma doença da batata desempenhou um papel histórico de importância. Até 1844, a Irlanda tivera excelentes colheitas de batatas, aliás, de grande necessidade para o país, pois a batata constituía então o principal alimento dos camponeses. Ora, por volta de 1846, após um verão frio e úmido, apareceram manchas nas folhas das batatas, manchas essas que logo se alastraram por todas as plantações. A colheita perdeu-se quase por completo. A maior parte das batatas não servia para consumo e, fato ainda mais grave, as próprias sementes estavam estragadas. Quase um milhão de pessoas morreu de fome. 
          Os homens jovens e fortes, fugiram á fome, abandonaram em massa a região. No decorrer dos anos seguintes, quase um milhão e meio de irlandeses emigraram para os Estados Unidos, aí se fixando. 
               Essa mesma doença da batata se espalhou também pela Alemanha e pela Polônia. Para não morrerem de fome, inúmeras pessoas tiveram que deixar o seu país natal. 
            Eis como a batata, humilde tubérculo, evoca ao mesmo tempo os Incas do Peru e os valentes europeus que foram contribuir para o desenvolvimento da América. 

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