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segunda-feira, 21 de outubro de 2019

A HISTÓRIA DO PAPEL



               A princípio, escrevia-se em peles de animais: as cabras, os carneiros, os antílopes, os cães e até as cobras forneceram aos homens, escritores primitivos, os meios para transmitir-nos suas memórias e acontecimentos. 
           Milhares de anos transcorreram, desde quando nossos ancestrais procuravam um material adequado para receber a escrita. Pouco a pouco chegou-se à fabricação do papel, de que tanto uso e consumo fazemos. 
               O processo de fabricação do papel, inventado pelos chineses, e guardado ciosamente dentro de sua poderosa muralha, foi conhecido por acaso pelos árabes. Estes, lá pelo século XI, divulgaram na Itália e na Espanha. A partir de então iniciou-se a a maravilhosa marcha para todo o mundo. 
              O homem, sempre engenhoso e movido pela ansiedade de conhecer os infinitos recursos da natureza, estudou pacientemente a maneira de empregar vegetais a serviço da escrita. 
              A primeira folha de papel vegetal nasceu em Mênfis, em remotíssimos tempos. Tratava-se do papiro (Cyperus Pappyrus); uma árvore com tronco triangular e liso, com altura de 4 a 5 metros, terminando em um penacho que, luxuriantemente aparecia orgulhosa nos pântanos do Nilo, fornecendo aos Egípcios uma rica matéria prima. As camadas que formavam a casca desta planta eram postas a secar ao sol; depois ficavam estendida, uma sobre a outra, como a trama de um tecido, e coladas com a própria água limosa do Nilo; finalmente, eram prensadas e envernizadas. O Egito fez grande consumo de papiros; estes resistiram ao poder destruidor do tempo, como que para auxiliar-nos a desvendar seus segredos do passado, tão rico e milagrosamente conservados na areia do deserto, que nos revelaram a grandeza de uma civilização que floresceu muito antes da vinda de Cristo.
            Um rei da família dos  Ptolomeus, com ciúmes de Eumenes, rei de Pérgamo, e da riqueza de suas bibliotecas, proibiu que, durante seu reinado, o papiro saísse de suas terras; na impossibilidade de encontrar em outro lugar a preciosa fibra, os cidadãos gregos recorreram, então, às peles de cabra e de carneiro, como já haviam feito nossos distantes ancestrais, e as tratavam com tanta habilidade, tornando-as tão resistentes, que até podiam usá-las de ambos os lados como ótimo material para escrever. Nasceu assim o "pergaminho".
               A busca do material ideal para a escrita era tarefa de todos os povos "civilizados" da época. Roma adotou o papiro, preferindo-o ao pergaminho e às tábuas enceradas. A princípio adquiriu papiros já usados no Oriente que, após lavados e livres das escritas anteriores, ficavam aptos a receber os textos latinos; depois, conquistando o Egito, passou a usar definitivamente o papel papiro (papel "macrocola") para sua escrita e (papel "emporético") para embrulho; distinguiu-se a "macrocola" em vários tipos de papel, subdividindo-os com nomes diversos, segundo a localidade egípcia de que provinham e, afinal, instalou-se fábricas para a produção em massa do papel do Egito na Itália. 
           Mas quando, no século VII, os Árabes se apoderaram do Egito, cessou o comércio de papiro com Roma e com o império de Constantinopla, e então foi preciso recorrer de novo ao pergaminho. 
               Foram os árabes que introduziram na Europa a fabricação de um novo tipo de papel, já aperfeiçoado; apresentava a qualidade mais comum e ainda é usado até hoje. 
         Os vários meios usados para escrever até aquele tempo eram tabuinhas, papiros, pergaminhos; e eram de tão boa qualidade que conservam intacta a estrutura da matéria prima com que eram preparados. O papel introduzido pelos árabes, ao invés, tal como o que se fabrica hoje, não mais apresentava o aspecto e as características exteriores das matérias primas fibrosas de que ele é preparado, porque o material empregado era diferente, e sobretudo outro processo de fabricação. 
            Os Árabes tinham aprendido tal processo dos Persas, que por sua vez, haviam conhecido o segredo dos Japoneses e dos Chineses; foram estes últimos, realmente, os verdadeiros inventores do papel propriamente dito. 
          Quando, ainda na Ásia e na Europa se debatiam nas extenuadas experiências de fabricação do papiro e do pergaminho, a China, isolada do mundo circundante, pela sua inata desconfiança contra os estrangeiros, já fabricava, desde muito tempo, o papel com materiais dos mais diversos, tal como trapos, resíduos de seda, cânhamo, palha de arroz, cascas de amoreira, etc. O processo empregado pelos chineses permitiu aproveitar grande número de matérias primas, e com grande vantagem econômica. Eles maceravam em água fervente as matérias primas, obtendo com isso, uma pasta densa, e folhas finas, que transportadas para cima de formas apropriadas (chapas quentes de gesso ou feltros) eram postas a secar. Obtidas as folhas com dimensões e espessuras desejadas, tratavam de colocá-las de duas em duas, pelo lado ainda em bruto, a fim de obter um tipo de papel resistente e susceptível de ser usado em ambas as partes. 
                 Os Árabes adotaram o processo de fabricação dos Chineses, preferindo como matéria prima, restos de tecidos de linho de algodão e avantajaram-se na fabricação, mediante a invenção de um aparelho especial chamado "pilha de malho", para preparação da polpa do papel. Tamanha foi a aceitação do papel fabricado pelos Ábares, que sua fabricação foi considerada monopólio do governo. 
             Muito colorida foi a indústria de papel no século XIII, onde se fabricava grande quantidade de papel branco, derivado de trapos brancos, pois os Árabes não conheciam, como também nós, nenhum sistema para descolorir a matéria prima reciclada. 
              No século XII, os Árabes implantaram as primeiras fábricas de papel na Sicília e na Espanha; entre os primeiros países, foi a Itália no pequeno povoado de Fabriano, que fabricou uma quantidade de papel especial e introduziu melhoramentos no material e nos métodos de produção. Fabriano foi um dos centros mais famosos na fabricação de papel. Entre os primeiros mestres desta indústria, já então florescente, distingue-se especialmente Pace da fabriano, que em 1340 fundou fábricas de papel em Pádua e em Treviso. 
                Do ano 1000 em diante, sucederam-se as invenções e aperfeiçoamento deste material que, justamente por ser considerado precioso, ainda não atingira a perfeição. Além disso, o trabalho manual obrigava a processos lentos e conservava bem alto o preço do papel; realmente alto demais para um produto, cujas infinitas possibilidades de aplicação exigiam mais rapidez e menores despesas. 
                 Foi o desenvolvimento das indústrias e o consequente ritmo de descobertas, no campo da técnica e da ciência, a perfeição da maquinaria, que determinaram a enorme produção e o imenso consumo que se faz atualmente do papel. E grande mérito deve-se atribuir ao operário francês Louis Robert, que em 1799 descobriu uma série de engenhos mecânicos capazes de fabricar, em pouco tempo e com mínima despesa, folhas de papel de determinada largura, mas de ilimitado comprimento. Tal invenção deu um maravilhosos impulso na indústria de papel, mas acarretou, porém, carestia de matéria prima: os trapos. 
              Um alemão, Frederico Keller, estudou os vários tipos de sucedâneos dos trapos e chegou a uma extraordinária descoberta; eles podiam ser substituídos pela própria madeira. Teve início, então, em 1845, uma nova era nesse ramo da indústria. 
              Os troncos, já descascados, são reduzidos a uma pasta por pesadas "moedeiras". Essa pasta e junta à celulose pura, em quantidade variável, segundo o tipo de papel que se deseja obter. O produto, denso e alvo, é depois passado pelas "refinadoras" onde se acrescenta a cola de resina, para tornar o papel apto a receber a tinta. Depois disso a pasta é passada pela máquina chamada "contínua", que através de sucessivas elaborações, a transforma em papel. A máquina "contínua" consiste, essencialmente, no "depurador" que elimina todas as impurezas da pasta, na tela mecânica, sobre a qual ela se expande, tomando depois a forma de papel nos cilindros enxugadores, onde a filha é secada a vapor. O papel, já pronto, e acondicionado pelos rolos recolhedores. 
                 O papel já atingira um alto grau de perfeição; servia para escrever, para a imprensa e para uma infinita gama de aplicações. Invadiu a Europa e a América, foi preferido a outros materiais, devido á acessibilidade do preço e tornou-se o mais usado e também o mais desperdiçado. 
              A primeira fábrica de papel, no Brasil, foi fundada em Salto do itu, estado de São paulo, em 1888, e pertencia à firma Melchert & Cia., com 36 operários. 
              Em 1890, o Coronel Antônio Rodovalho fundou a Companhia de Melhoramentos de São Paulo, para a exploração dessa indústria, e uma segunda fábrica foi fundada, logo depois, em Caieiras. Na mesma época, o operário italiano Narciso Sturlini explorava, em Osasco, o fabrico de "papelão". Este modesto empreendimento data de 1889 e deu origem á posterior Companhia Industrial de Papéis e cartonagem. Atualmente no Brasil existem centenas de fábricas de papel, representando elevado capital. Em santa Catarina, na cidade de Ibicuí existe a fábrica Iguaçu Celulose, Papel S/A. que por várias vezes, junto com meu pai, visitei quando ainda era adolescente. 

               A Refinaria Paulista S/A, em São paulo, foi a primeira na industrialização do bagaço de cana para o fabrico de celulose e papel. 

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