Escriba - escritor.
A história escrita tem pelo menos 6 mil anos. Durante metade desse período o centro dos negócios humanos, ao que sabemos, foi o Oriente Próximo. Por essa expressão aqui significamos todo o sudoeste da Ásia ao sul da Rússia e o do Mar Negro, como também o oeste da Índia e do Afeganistão e do Egito. A agricultura e o comércio desenvolveram-se nesse palco fervilhante de populações, e também o carvão e o carro, a cunhagem de moedas e as letras de crédito, as artes e as indústrias, a lei e o governo, as matemáticas e a medicina, o calendário, o relógio e o zodíaco, o alfabeto e a escrita, o papel e a tinta, os livros, as bibliotecas e as escolas, a literatura e a música, a escultura e a arquitetura, a cerâmica vidrada e o belo mobiliário; também a poligamia, os cosméticos e a joalheria, o xadrez e os dados, o jogo da bola e o imposto sobre a renda, as amas de leite e a cerveja. É donde as culturas europeias e americanas derivam, via Grécia e Roma. os arianos não criaram a civilização - tomaram-na da babilônia e do Egito. A Grécia não começou a civilização - herdou-a, foi o receptáculo de três milênios de arte e ciências trazidos do oriente Próximo pelo comércio e pela guerra. Portanto, o povo do Oriente Próximo foi o grande fundador da civilização ocidental.
De fato, para fazermos justiça ao falar em civilização, precisamos nos curvar à sabedoria sumeriana a quem muito devemos.
Em meio a muitas lutas, essas variadas cepas raciais misturavam-se inconscientemente, talvez involuntariamente, e cooperavam para produzir a primeira grande civilização da história, e uma das mais criadoras e originais.
A eximação (excluir, ausentar) dessa esquecida cultura é um dos romances da arqueologia. Para os gregos, romanos e judeus era desconhecida. O próprio sábio Heródoto não a menciona. Berosio, historiador babilônico de 250 a.C., entreviu a Suméria sob um véu de lenda. Descreve-lhe o povo como uma raça de monstros, chefiada por um Oannes (sábio que veio para civilizar) vindo do Golfo Pérsico, que introduziu a agricultura, a metalurgia e a escrita; "todas as coisas que melhoram a vida", diz ele, "foram introduzidas por Oannes, e desde esse tempo nenhuma outra invenção apareceu". Em 1850 Hincks admitiu que a escrita cuneiforme proviera dum povo de língua não-semita; e Opperet deu a esse hipotético povo o nome de "Sumérios". Por esse tempo Rawlinson encontrou, nas ruínas de Babilônia, tabletas com vocabulário da língua sumeriana, com tradução interlinear em velho babilônio. Em 1854 dois ingleses descobriram o sítio de "Ur", Eridu e Urik; e exploradores franceses revelaram os remanescentes de Lagash, com tabletas em que vinha a história dos reis sumerianos. Há pouco tempo o americano Woolley e outros exumaram a cidade de "Ur", em que os sumérios alcançaram alta civilização em 4.500 a.C. Os trabalhos continuam e é de esperar que a exumação da Suméria se aproxime, em proporções, da do Egito - tão opulenta em achados.
A escrita
Sem dúvida, o mais importante passo para a civilização foi a escrita. Fragmentos de cerâmica da era neolítica mostram linhas pintadas que os estudiosos interpretam como sinais. Achamos a interpretação bastante duvidosa; mas é possível que a escrita começasse com marcas na argila mole, para identificação do produto. Nos primitivos hieroglifos da Sumeriana pictografia de pássaros mostra sugestiva semelhança com a decoração também de pássaros da antiga cerâmica de Susa, em Elam; e mais antiga representação pictográfica do grão vem diretamente da geométrica decoração granária dos vasos de Susa e da Suméria. A escrita linear da Suméria (3.600 a.C.) é aparentemente uma forma abreviada dos sinais e pinturas da primitiva cerâmica da Mesopotâmia e de Elam. A escrita, como a pintura e a escultura, foi na origem um produto de cerâmica; começa sob a forma de desenho e gravação, e o material do oleiro, do escultor e do construtor, passa a ser usado pelo escriba. Destes começos à escrita cuneiforme da Mesopotâmia, o desenvolvimento aparece lógico e intangível.
Os mais velhos símbolos gráficos são os que Petria encontrou nos vasos e pedras dos túmulos pré-históricos do Egito, Espanha e do Oriente Próximo, aos quais ele dá a idade de "sete mil anos". Esta "Sinaria mediterrânea" compunha-se de trezentos sinais, pela maioria os mesmos em todas as localidades. Não passavam de marcas mercantis - Marca de propriedade, de quantidade e outras; não eram letras, mas representações de palavras inteiras ou ideias, muitas se assemelham extraordinariamente à letras do alfabeto fenício. Conclui Petrie que nos tempos primitivos um vasto corpo de sinais foi gradualmente entrando em uso para vários propósitos. O comércio os espalhava de terra em terra... até que um conjunto de doze sinais triunfou e se tornou propriedade comum dum grupo de comunidades mercantes, enquanto outros permaneceram e por fim desapareceram. Que esta "sinaria" foi a fonte do alfabeto e isto constitui uma interessante teoria, que o professor Petrie tem a honra de sustentar sozinho.
Qualquer que tenha sido o desenvolvimento dos primeiros símbolos comerciais, deles saiu uma forma de escrita, ramo do desenho e de pinturas, destinadas a transmitir ideias por meio de representações gráficas. Os rochedos do Lago Superior ainda conservam restos das rudes pinturas com que os índios americanos orgulhosamente narravam a travessia do grande lago. Uma similar evolução do desenho em escrita parece ter ocorrido no mundo mediterrâneo no fim da idade Neolítica. Em 3.600 a. C.ç, e talvez antes, Elam, Suméria e o Egito desenvolveram um sistema de símbolos, ideias ou "hieroglifos", assim chamados por serem de uso sacerdotal. Sistema similar aparece em Creta em 2500 a. C. Veremos adiante como estes hieroglifos, representando ideias, foram, pela corrupção do uso, esquematizados e reduzidos a silabários, isto é, a uma coleção de sinais indicando sílabas; e como, por fim, os sinais passaram a indicar apenas letras, ou o som inicial da sílaba. Tal escrita alfabética data de antes de 3.000 a.C., no Egito, e em Creta aparece apenas em 1600 a.C. Os fenícios não criaram o alfabeto, mas apenas espalharam-no; levaram-no do Egito a Creta e outros centros do Mediterrâneo. No tempo de Homero os gregos estavam assimilando este alfabeto "fenício", ou aramaico, passando a conhecê-lo pelo nome semítico das duas primeiras letras (Alfa e beta - ou em hebraico, Alep e Beth).
A escrita parece ser um produto de conveniência comercial; aqui e ali a cultura percebe o quanto deve ao comércio. Quando os sacerdotes organizaram um sistema de desenhos com que fixar suas fórmulas mágicas e a isto se restringiram, os seculares, sempre em conflito, ligaram-se por um instante e criaram a coisa mais fecunda para os destinos humanos depois da fala. O desenvolvimento da escrita criou a civilização com o prover o meio de fixar e transmitir os conhecimentos - e só assim a civilização poderia encetar a sua marcha para frente.
Os humanos sempre tiveram o desejo de deixar suas marcas para conhecimento das futuras gerações.
O homem pré histórico figurou, com desenhos mais ou menos rudes, executados nas paredes das cavernas, suas caçadas, seus combates, seus ritos. Estes desenhos foram a primeira forma de escrita, que nos transmitiram nossos ancestrais.
Na mente do homem primitivo surgiu vivo o desejo de deixar aos pósteros, os traços de sua passagem pela vida terrena e, então, ele recorreu aos símbolos, para descrever os fatos mais importantes da sua existência e, a pouco e pouco, encontrou na escrita, o meio mais adequado de expressão.
Quando os egípcios descobriram a possibilidade de escrever nos papiros, deram início a uma nova forma de escrever, mais simples e mais rápida: a escrita hierática.
Muito fraca, de fato, é nossa memória, para que a ela se possa confiar a veracidade dos fatos, das nossas ideias, de nossos sentimentos. Entretanto, comunicar com os homens que vivem em nossa época e que viverão depois de nós, vencer o tempo e a distância, dando forma duradoura ao pensamento, é uma das necessidades que, em primeiro lugar, se manifestou nos homens. O miraculoso prodígio, que fez com que os mortos sobrevivam na recordação dos vivos e que os distantes se aproximem, transpondo a barreira do tempo e do espaço, foi conseguido pela escrita. Nós, homens modernos, que desde tanto tempo possuímos o segredo de escrever, na forma mais exata, aquilo que sabemos dizer, não podemos deixar de sentirmo-nos, ao pensar nos primeiros homens que se empenharam na busca de uma forma de escrita e no trabalho daqueles antiquíssimos ancestrais nos parece heroico e benéfico ao mesmo tempo. O homem primitivo, para traduzir de maneira indelével o próprio pensamento, não escreveu, mas desenhou, nas paredes das cavernas, nas rochas expostas á intempéries, nas lajes de pedra dura, ele representou, por meio de um desenho mais ou menos rudo, os fatos mais importantes de sua vida; suas caçadas, seus combates, seus ritos; em seguida, aos poucos, firmou-se em sua mente a ideia de transcrever tais fatos de maneira mais rápida e mais concisa. Seu cérebro, nesse ínterim, já evoluíra, sua linguagem se enriquecera notavelmente e muitos pensamentos agora já se podiam representar com apenas símbolos. Para significar "manhã", por sexemplo, desenhou um sol radioso;para exprimir a ação de comer, serviu-se da figura de um homem levando a mão à boca;para dizer "nada", representou um homem de braços abertos, e para dar maior clareza ao próprio pensamento, não lhe era mais preciso representar a cena inteira, mas sim, apenas indicar o gesto do homem numa certa circunstância. Poucas figuras bastavam, assim, para transmitir uma narrativa, para sugerir os versos ao cantor, ou para ensinar ao caçador as operações que deveriam ser executadas durante a caçada. Depois, também esta forma de escrita mudou, tornando-se ainda mais rápida e complexa; para escrever "caminhar", por exemplo, não foi mais necessário representar um homem andando, mas apenas desenhar um pé; a princípio, fiel ao verdadeiro, e, depois simplificados, isto é, estilizado.
As grande civilizações da era antiga usavam este tipo de escrita !simbólica"; empregaram-na todos, Chineses, Sumerianos, Hititas e Egípcios, embora os sinais por eles usados fossem diferentes, porque diferentes era sua linguagem e o material empregado para escrever e sobre o qual escrever; Os Sumerianos e os Assírios, por exemplo, a diferença dos Chineses e dos Egípcios, em pleno florescer de sua civilização, Confiaram suas memórias à pedra e a certos tipos de argila, secos ao sol ou cozidos ao fogo, e inventaram, portanto, a escrita "cuneiforme", própria para ser "incisa" na pedra. Os Egípcios, ao invés, quando descobriram a possibilidade de escrever em papiro, modificaram sua escrita de "hieroglifos", própria também para a pedra, e deram formas a um novo processo, mais simples e rápido: a escrita "hierática". A escrita hieroglífica surgiu, no Egito, entre os VI e IV milênios a.C.; antes também os Egípcios representavam o homem, suas ações, os animais e os vegetais, de modo bastante real; em seguida, recorreram aos símbolos e, mais tarde, foram além, dando o primeiro passo para a escrita fonética, ou seja, aquela que usamos. Eis um exemplo que explicará isso melhor; para simplificar "casa", um homem primitivo esforçar-se-ia por desenhar uma casa; o egípcio não traçou uma figura semelhante à casa, mas estabeleceu um sinal que indicasse,porém, (em artigo egípcio = casa). Como os Egípcios não usavam sinais para as vogais, mas somente para as consoantes, este sinal ficou tendo o valor de "pr". Necessitando de escrever outras palavras que indicassem ou contivessem o grupo "pr", o Egípcio recorreu ao símbolo que, antes, indicava apenas a palavra "casa", até obter o "som" da palavra desejada. Com os Egípcios, chegou-se por, a uma escrita composta de sílabas, não em simples consoantes e vogais, como hoje fazemos; o mérito da descoberta do alfabeto cabe a outros povos, talvez ao Fenícios, que o aprenderam, provavelmente, do povo hebraico, e que o ensinamento aos Gregos e aos Itálicos.
A escrita chinesa moderna, que conta cerca de 40.000 sinais, é assas semelhante á escrita chinesa antiga.
Os Maias representavam os números desenhando cabeças; cada cabeça representava um número. É de se imaginar o quanto deveria ser complicada uma simples soma.
A escrita modificou-se sempre mais, os sinais transformaram-se, tornaram-se mais fáceis, mais claros, mais diferentes entre si, porque os homens logo lhe compreenderam a importância.
À amorosa e paciente diligência dos monges beneditinos, na Idade Média, devemos a transcrição e a conservação de numerosas obras literárias da antiguidade.
A escrita modificou-se sempre maius, os sinais transformaram-se, tornaram-se mais fáceis, mais claros, mas diferentes entre si, porque os homens logo lhe compreenderam a importância. Na época moderna, na Renascença e no século XVII, sobre tudo, os homens dedicaram-se, com grande empenho á escrita , este meio tão importante para comunicar e instruir, para transpor os limites que o tempo e o espaço nos impõem. E chegou-se, assim, ao moderno alfabeto, ao nosso tipo de escrita.
Deixar um traço de nossa passagem pela terra, essa necessidade que o homem sentiu e que sentirá sempre, encontrou, na escrita, o meio mais adequado, mais rápido e mais difuso de expressão.
Em nossas escolas elementares, a criança é iniciada nos mistérios, passando, tais como nosso pais, dos sinais mais simples á letras.
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