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terça-feira, 24 de dezembro de 2019

A HISTÓRIA DA MORALIDADE SEXUAL

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Neste espaço vamos procurar compreender como são as "relações pré-maritais, a castidade, a virgindade, a moral dupla, a prostituição, a relatividade da moral, o adultério, o papel biológico do pudor, o divórcio, o aborto, o infanticídio, a infância e o indivíduo. 

            O maior trabalho da moral sempre foi a regulação sexual, porque o instinto reprodutor cria problemas não só dentro do casamento, como antes e depois dele; e a cada instante ameaça perturbar a ordem social com sua persistência, a sua intensidade, o seu desprezo à lei e as suas perversões. O primeiro destes problemas diz respeito às relações pré-maritais - devem ser livres ou restritas? Mesmo entre os animais o sexo não é completamente livre; a rejeição do macho por parte da fêmea, exceto nos períodos do cio, reduz o sexo a um papel muito mais modesto do que tem ele em nossa espécie. Como disse Beaumarchais, o homem difere do animal por comer sem ter fome, beber sem ter sede e fazer amor em todas as estações do ano. Entre os povos primitivos encontramos algo análogo às restrições animais no tabu da mulher durante o período menstrual. Fora daí, o intercurso pré-marital é quase sempre livre, nas sociedades mais simples. Entre os índios norte-americanos e também algumas tribos brasileiras, os jovens uniam-se livremente, sem que mais tarde esse fato constituísse impedimento para o matrimônio. Entre os "papuas" a vida sexual começava muito cedo e a promiscuidade pré-marital era regra. A mesma coisa acontecia entre os "soyots" da Sibéria, os "igorots" das Filipinas, os nativos da "Alta Burna", os "cafres e boxinames" da África, as tribos da Nigéria e da Uganda, da Nova Geórgia, das ilhas Murray, das Andamanes, do Taiti, da Polinésia, do Assam, etc. 
              Sob tal regime não seria de esperar muita prostituição. A "mais velha das profissões", portanto, é relativamente nova; só aparece com a civilização, com o advento da propriedade e o desaparecimento da liberdade pré-marital. Aqui e ali encontramos jovens que se vendem por algum tempo a fim de reunir dote, ou levantar fundos para templos religiosos e outras instituições associativas; mas isto só ocorre onde o código moral aprova, como um piedoso sacrifício para ajudar os pais pobres ou os imaginários "deuses famintos". 
              A castidade vem depois. O que a moça primitiva mais temia não era a perda da virgindade, mas sim adquirir a fama de estéril; com frequência a aprendiz pré-marital constituía uma ajuda, em vez de um embaraço para o casamento, porque provava a fecundidade da mulher. Antes do advento da propriedade as tribos mais simples tinham em má conta a virgindade, achando-a indicativa de impopularidade (uma mulher desinteressante e não desejada). O noivo kamchadal que na noite de núpcias encontrava a sua noiva virgem, enfurecia-se, e insultava-lhe a mãe pela maneira negligente com que educara a filha. Em muitos lugares a virgindade era considerada como barreira para o casamento, porque punha a cargo do noivo a detestável tarefa de violar o tabu que lhe proibia derramar o sangue da tribo. Às vezes a moça se oferecia a um estrangeiro desconhecido, como meio de livrar-se desse tabu; outras se violavam de maneira artificial, geralmente com algum legume assemelhado ao falo. No Tibete as mães ansiosamente procuravam um homem que lhes pudesse deflorar as filhas; no Malabar as moças cercavam nas estradas os passantes e lhes pediam o grande favor, porque "enquanto fossem virgens não conseguiriam casamento". Em algumas tribos a noiva era obrigada, no dia do casamento, a dar-se aos hóspedes vindos à festa, antes de entregar-se ao marido; em outras o noivo contratava um homem para lhe desvirginar a noiva; entre certas tribos das Filipinas havia um funcionário público, muito bem pago, incumbido de poupar aos noivos esse incômodo. 
             Mas, afinal, o que foi que transformou a virgindade, dum defeito que era, em virtude, e tanto a elevou nos códigos morais das altas civilizações? Indubitavelmente, a instituição da propriedade. A castidade pré-marital apareceu como extensão às filhas do sentimento de propriedade com que o macho patriarcal olhava para sua mulher. A valorização da virgindade sobreveio quando, no casamento por compra, a noiva virgem começou a alcançar melhor preço que a não virgem; trazia um atestado referente ao seu passado e uma promessa da fidelidade marital, agora tão cara para os homens receosos de que seus bens se fossem para filhos "sub-reptícios" (gerado às escondias por outros machos). 
             Os homens nunca pensaram em aplicar estas restrições a si mesmos; não aparece na história nenhuma sociedade estabelecendo a castidade pré-marital do macho;  língua nenhuma ainda cunhou a palavra designativa do "homem virgem", a não ser publicitariamente. A aura virginal reservava-se unicamente apara as moças. Os tuaregues puniam com a morte a irregularidade; os negros da Núbia, da Abissínia, da Somália, etc.,  praticavam nas meninas a cruel arte de infibulação, isto é, a colocação de um anel nas partes genitais, de modo a impedir a cópula; em Bruma e no Sião essa pratica subsistiu até nossos dias. Formas de separação surgiram, por meio das quais as meninas eram impedidas de ser tentadas. Na Nova Bretanha os pais ricos confinavam as filhas, durante os cinco anos considerados mais perigosos, em cabanas guardadas por velhos negros; dali não podiam sair e só os parentes as visitavam. Algumas tribos de Bornéu também guardavam as moças solteiras em rigoroso confinamento.  Destes primitivos costumes ao purdah dos muçulmanos e hindus, só vai um passo - o que mostra quão perto da selvageria está a atual civilização. 
                O pudor sobrevêm com a virgindade e o patriarcado. Ainda hoje muitas tribos em que não há o menor vexame na exposição do corpo nu; mas envergonham-se de usar roupas. A África inteira não se cansou de rir quando Livingstone pediu aos negros que o hospedavam para porem alguma tanga por ocasião da vinda de madame Livingstone. A rainha de Balonda apresentou-se completamente nua ao receber esse explorador. Em certo número de tribos, os pares copulavam publicamente, sem o menor pensamento de vergonha. 
                No começo o pudor é para a mulher o sentimento de que ela é tabu nos seus períodos menstruais. Quando surge o casamento por compra e a virgindade das filhas começa a dar lucro aos pais, a separação e a compulsão à virgindade começam a criar nas meninas o senso do dever de castidade. De novo o pudor mostra-se como sentimento na mulher que, comprada, sente-se em obrigação financeira para com o marido, e refreia-se de gratuitas relações sexuais com outros. É nesse ponto que surge o vestuário, caso ainda não aconteça por proteção do corpo contra perigos e intempéries; em muitas tribos as mulheres só passam a andar vestidas depois do casamento, como sinal de seu estado e como meio de afastar a galanteria; o homem primitivo não concorda com o dizer de Anatole France, que é cobrir o corpo que produz a luxúria. A castidade, entretanto, não revela nenhuma necessária relação com a roupa; contam alguns viajantes que na África a moral varia em razão inversa à quantidade de roupas. É claro que o que envergonha os homens depende unicamente dos tabus e costumes locais do grupo. Até recentemente a chinesa envergonhava-se de mostrar os pés; a mulher árabe, de mostrar o rosto; e a tuaregue (no sul da Líbia) de mostrar a boca; mas as antigas egípcias, as hindus do século 19 e as mulheres de Bali do século 20 (antes de ardentes turistas começarem a aparecer por lá), nunca sentiram a menor vergonha em andar com os seios à mostra. Elas foram a grande inspiração do pintor francês Gauguin. 
               Não devemos concluir que a moral perde o valor pelo fato de assim variar no tempo e no espaço, e que seria revelação de nossa cultura em história, o desembaraçar-nos dos costumes morais do grupo em que vivemos. Antropologia em doses muito pequenas é coisa perigosa. Não há a menor dúvida que a moralidade, como diz Anatole France, "é a soma dos preconceitos dum grupo"; e que, como disse o grego "Anacarsis", se fôssemos juntar todos os costumes considerados sagrados em algum grupo, e depois retirar dele tudo quanto fosse considerado imoral em outro, nada restaria deles. Mas isto não prova a desvalia moral; só prova de quantas maneiras diferentes pode a ordem social ser preservada. Essa ordem é indispensável à vida dos grupos; não há jogo que possa ser conduzido sem regras; o homem necessita saber o que lhe pode vir de outro, nas circunstâncias ordinárias da vida. Daí a unanimidade com que os membros duma sociedade praticam o código moral, coisa tão importante como o conteúdo desse código. Nossa heroica rejeição dos costumes e da moral da nossa tribo, quando na adolescência descobrimos a relatividade moral, apenas revela imaturidade de julgamento; com o passar de décadas e aquisição de mais sabedoria, deixamos de lado muitos preconceitos do código moral que condenávamos, pois que ele consolida a experiência de gerações anteriores. Cedo ou tarde nos vem a percepção de que mesmo o que é para nós incompreensível pode ser verdadeiro. As instituições, convenções, costumes e leis que formam a completa estrutura duma sociedade provém do trabalho de centenas de séculos e de milhões de espíritos; um só espírito não pode esperar compreendê-lo durante apenas uma vida, e muito menos aos vinte anos de idade. Temos de concluir que a moral é relativa, mas indispensável para a vida em sociedade. 
              Desde que os velhos costumes básicos representam a seleção duma série de modos de agir durante séculos de experiência e erro, podemos esperar descobrir alguma utilidade social, ou valor de sobrevivência tanto na virgindade como no pudor, a despeito da histórica relatividade dessas instituições, da sua associação ao casamento por compra e das suas contribuições para as neuroses. O pudor era a retirada estratégica que permitia à moça melhor escolha de um companheiro, ou o forçava a mostrar-lhe as suas mais belas qualidades antes de vencê-la; os embaraços que o pudor levanta contra o desejo do homem geram aqueles sentimentos de amor romântico que levam a mulher aos seus olhos. A orientação impositiva da virgindade destruiu a naturalidade da primitiva vida sexual; mas, com o diminuir da precocidade do sexo e a maternidade muito prematura, diminuiu também o espaço entre a maturidade sexual e a economia. Provavelmente serviu para fortalecer o indivíduo no físico e no mental, prolongando a adolescência e a educação, e desse modo elevando o nível da raça. 
              À medida que a instituição da propriedade se desenvolveu, o adultério foi passando de "pecado venial a pecado mortal", para lembrarmos de textos religiosos. As religiões aproveitaram-se desses sentimentos primitivos e os incutiram em suas regras à sua maneira. Metade dos povos primitivos não lhe atribuíam nenhuma importância. Mas o surto da propriedade não só levou à exigência da completa fidelidade feminina, como gerou no homem o senso de domínio em relação à esposa; mesmo quando o marido emprestava a esposa a um hóspede, costume muito comum entre os esquimós, o que vemos é o uso dum ser que lhe pertence de maneira absoluta e absurda. O costume do suttee (comunidades hindus) veio completar esta concepção; a mulher era sacrificada e enterrada no túmulo do marido, com todos os pertences deste. Durante o regime do patriarcado o adultério equiparou-se ao furto; equivaleria hoje à infração duma patente registrada. O castigo variava de grau, indo da indiferença, nas tribos mais simples, ao estripamento, observado em certas tribos da Califórnia, ou apedrejamento da adultera, hediondo costume entre árabes. Após séculos de punição, a nova virtude da fidelidade da esposa estabeleceu-se firmemente e gerou uma consciência no coração feminino. Muitas tribos de índios surpreenderam os conquistadores por considerar irrepreensível a conduta das esposas; e certos viajantes lamentavam que as mulheres da Europa e da América não possam se igualar em fidelidade marital as da Papuásia e da Zululândia (Reino Zulu). 
             Essa fidelidade era mais fácil para os Papuas, desde que entre suas tribos, como na maioria dos povos primitivos, poucos embaraços se levantavam contras o divórcio. As uniões raramente iam além de poucos anos, entre os índios da América. "Grande número de homens velhos ou maduros", diz Schoolcraft, "contam das muitas mulheres que tiveram, e dos muitos filhos espalhados pelo mundo, que lhes são desconhecidos". (esses realmente levaram à sério a ordem divina de "crescei e multiplicai")  Ele se riem dos europeus por terem uma só mulher, e por toda vida; acreditam que o "Espírito Bom" os formou para serem felizes e não para permanecerem amarrados, salvo aos que o desejem por força da congenialidade. Os índios cherokees mudavam de mulher três ou quatro vezes por ano; os somoanos (de Samoa) eram bastante conservadores, trocavam de mulheres de três em três anos, em média. Com o advento da vida agrícola, as uniões se tornaram mais permanentes. Sob o sistema patriarcal o homem considerava antieconômico divorciar-se, porque de fato isso consistia em perder uma escrava. Como a família se tornara a unidade de produção social, o progresso vinha do tamanho e da coesão das famílias; era vantagem que a união se prolongasse até que o último filho estivesse criado. Mas quando essa época finalmente chegava, já pouca ou nenhuma energia restava aos cônjuges para um novo romance. O que de novo trouxe o divórcio ao mundo moderno foi a indústria urbana e a consequente redução do tamanho e da importância econômica da família. Em nossos dias, um dos principais fatores que freiam os divórcios é a divisão dos bens; mas o homem moderno já encontrou uma nova forma de garantir os bens que considera seu através dos modernos contratos "pré-nupciais". 
                 Em geral, através da história, os homens sempre quiseram muitos filhos, e por essa razão declaravam sagrada a maternidade; mas as mulheres, às quais cabia todo o peso da reprodução, secretamente se rebelavam e usavam todos os meios para escapar à essa carga. Os homens primitivos não tratavam de restringir a população; as crianças eram elementos aproveitáveis, os homens só lamentavam que não fossem todos do seu sexo. Foi a mulher que inventou o aborto, o infanticídio e o repúdio à concepção, embora nas sociedades primevas isso só acontecesse esporadicamente. Parece-nos espantosa a verificação da simplicidade de motivos entre o "selvagem" e o "civilizado" quanto à evitação de  filhos: fugir aos trabalhos da criação, preservar a frescura da mocidade, evitar a desgraça da maternidade extra-conjugal, medo da morte, etc. O processo mais simples de reduzir a maternidade consistia em negar-se  a mulher ao homem no período da amamentação, a qual poderia ser prolongada por anos a fio. Às vezes, entre os índios Cheyenees,  as mulheres adotavam o costume de se recusarem a ter um novo filho antes que o primeiro fizesse dez anos. Na Nova Bretanha as mulheres não tinham filhos até dois e tr~es anos depois do casamento. Os Guaicurus do Brasil foram diminuindo de número porque as mulheres se recusavam a ter filhos antes dos trinta anos de idade. Em os papuas, o aborto era frequente; "filhos são carga pesada", disse uma mulher; "nós estamos cansadas de filhos". Algumas tribos moáris usavam ervas, ou alternavam a posição do útero na tentativa de evitar a concepção. 
                Quando falhava o aborto, vinha o infanticídio. Muitos povos admitem a matança do recém-nascido, se aparecia disforme ou doente, ou se era bastardo, ou ainda se a mãe morrera no parto.  Outras tribos matavam os dados á luz sob más circunstâncias; os nativos de Bondei estrangulavam os que nasciam de cabeça; os de Madagascar abandonavam os recém-nascidos ao alcance de predadores, afogavam ou enterravam vivas as crianças que vinham em março ou abril, ou ainda nas quintas e sextas-feiras, ou na última semana de cada mês. Essas datas eram usadas como justificativas para o infanticídio. Se a mulher procriava gêmeos, isso era, em algumas tribos, prova de adultério, já que um homem não podia ser ao mesmo tempo pai de duas crianças nascidas juntas; por isso uma, ou até as duas eram condenadas á morte. A prática do infanticídio prevalecia sobretudo entre os nômades, aos quais o nascimento de crianças constituía embaraço as marchas. A tribo dos bangerangs (tribos da Áustria) matava no nascimento metade dos filhos; os lenguas do Chaco paraguaio, só permitiam uma criança por família, em cada espaço de sete anos; os abipones (Indígenas da Argentina) faziam como os franceses: apenas duas crianças em cada cada, e matavam as que vinham a mais. (evidentemente, em relação á matança, estou falando apenas dos indígenas da Argentina e não dos franceses). Também, quando ameaçadas de carestia, muitas tribos estrangulavam as crianças de peito, outras as comiam. Em regra as meninas eras mais expostas ao infanticídio; às vezes torturavam-nas até a morte a fim de induzir a alma quando de novo se reencarnasse a escolher o sexo masculino. 
                O infanticídio era praticado sem crueldade e sem remorso, porque logo que dá à luz a mãe ainda não nenhum amor instintivo pelo filho. Se a criança vivia algum tempo, estava liberta desse destino; surgia o amor na sua primitiva simplicidade; e em muitos casos a dedicação das mães igualava à das mulheres modernas. Por falta de leite de vaca e outros alimentos adequados, a mãe amamentava o filho até dois anos, às vezes até doze; um viajante conta dum menino que já fumava e ainda não tinha desmamado; muitas vezes uma criança abandonava o brinquedo, ou até o trabalho, para ir agarrar-se ao peito materno. A mãe negra trazia o filho nas costas enquanto trabalhava, e amamentava-o jogando o comprido seio para trás. A disciplina primitiva era indulgente, mas não ruidosa; a criança ficava entregue a si mesma, tendo de enfrentar as consequências da sua estupidez, insolência ou pugnacidade (crianças belicosas, contestadoras); o aprender vinha por si próprio no passo a passo.  O amor filial e o paternal mostram-se muito desenvolvidos na sociedade natural. 
                Perigos e doenças abundavam, de modo que a mortalidade infantil sempre foi alta. O perigo da mocidade era breve, porque as responsabilidades maritais e marciais começavam muito cedo, e os rapazes tinham de enfrentar os trabalhos de defesa dos grupos. Consumiam-se as mulheres no carregar de crianças, e os homens no prover alimentos. Quando o filho mais velho estava criado, os pais, já velhos, nada mais valiam; pouco tempo sobrava para a vida individual, no começo ou no fim duma existência humana. Individualismo, como liberdade, constitui luxo da civilização. Unicamente com o albor da história encontramos homens livres das cargas da fome, da reprodução e da guerra, aptos, portanto, para criar os valores do lazer, da cultura e da arte. 
                 A sociedade de hoje, onde a cultura está altamente desenvolvida, enfrenta um novo problema. Os diversos métodos anticoncepcionais está largamente disponível às classes sociais mais elevadas. Já nas classes que vivem em lugares insalubres como as favelas e comunidades pobres, as jovens de pouca idade estão dando à luz bem cedo, muitas vezes na puberdade. Isto faz com que a menina abandone os estudos para cuidar do filho que geralmente é negado ou abandonado pelo pai. Há casos de jovenzinhas adolescentes que sofrem estupros e não tem apoio dos pais, da sociedade, e nem mesmo do governo. Nas comunidades dominadas pelo crime as meninas muitas vezes são forçadas pelos criminosos a ter relações na mais tenra idade;  na maioria das vezes não recebem apoio nem dos pais que são intimidados pelos delinquentes. Isso forçosamente trás um grande aumento na natalidade nessas comunidades. Além do problema criminal e social, provoca o exponencial aumento da ocupação irregular do solo urbano. Como consequência temos uma explosão no número de nascimentos nas classes mais baixas; enquanto que nas sociedades mais elevadas o número de nascimentos vem diminuindo drasticamente. Independentemente de analisarmos a questão genética dessas crianças (quem é o pai, qual a sua índole e seu nível intelectual), podemos concluir que fatalmente haverá declínio mental até mesmo pelo simples fato da falta de uma alimentação adequada e boas condições de saúde. Como consequência temos o aumento no número de crianças nas classes mais baixas e diminuição nas classes mais abastadas. O resultado final deixo para a imaginação do meu caro leitor. 

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domingo, 22 de dezembro de 2019

OS VERDADEIROS BERÇOS DA CIVILIZAÇÃO

A Vênus de Willendorf  - 10.000 anos.

                Há mais de cem anos os antropologistas vitorianos dividiram a história da evolução da humanidade em três etapas: Selvageria, barbárie e civilização.
  • A selvageria foi o período da qual o homem vive da natureza mediante a caça e  a coleta de frutas e raízes comestíveis.   
  • A barbárie foi o período das primeiras comunidades agrícolas.
  • A civilização surgiu naquelas partes favorecidas do mundo, onde o homem criou a arte da escrita.    
                 Apesar de seu uma característica importante de muitas sociedades antigas, normalmente denominadas civilizações, não é o único critério que devemos usar no momento de determinar a origem da civilização.  
              Na verdade, a palavra civilização está intimamente  ligada a ideia de viver em cidades.  É ali que vemos a arquitetura monumental, templos suntuosos e palácios. A divisão das sociedades em hierarquias de governantes e subordinados foram consideradas como elementos importantes na definição da civilização.  Embora, quando fazemos referência à civilização sumeriana ou à civilização Chang, ou ainda  à própria civilização de nossos dias, aludimos a algo mais do que a uma simples enumeração de critérios; referimo-nos às manifestações das conquistas culturais e intelectuais dos seres humanos. 
                 Sem dúvida, um dos acontecimentos mais importantes na história da humanidade foi  o aparecimento das primeiras cidades, que ocorreu no sul da Mesopotâmia no quarto milênio a.C.  Isto aconteceu devido ao acelerado crescimento da população e consequente aumento da produção agrícola; a agricultura passa a ser adotada como forma de vida, em oposição à caça e a coleta aleatória. Seus numerosos vestígios, hoje, dominam a paisagem. Já naquela época dominavam essa mesma paisagem no sul do Iraque, embora essas comunidades não fossem muito grandes. 
                 Essa mudança radical na forma de viver tiveram enorme impacto na  sociedade, nas religiões, na política e na vida intelectual. 
                 O rio Nilo, as planícies de boa fertilidade e os vales irrigados naturalmente pelo tigre e pelo Eufrates, constituíram, na antiguidade a região com maior potencial agrícola junto às do Indo. Foi ali que se desenvolveram as primeira comunidades agrícolas do mundo. 
            Em Jericó cultivavam-se cereais desde o ano 8.000 a.C. porem essas eram terras que mantinham delicado e frágil equilíbrio, onde era preciso defesa constante, tanto da natureza como dos vizinhos famintos e predatórios vindos do oeste do deserto e das montanhas do norte e do leste. 
               Já o Nilo tinha suas cheias regulares e benéficas; o fluxo das águas destes rios gêmeos, ao subir a leste pelos montes Tauro, é irregular e imprevisível, produzindo condições de seca em um ano e de inundações violentas e destrutivas em outro. A  inteligência humana buscou uma solução pratica para controlar, em parte, a vontade do rio construindo açudes e canais. foi enfrentando essas situações imprevisíveis que as civilizações conseguiram suas conquistas. 
                As primeiras cidades cresceram na Mesopotâmia Meridional durante a última parte do quarto milênio a. C. A religião sempre esteve presente, e cada cidade estava sob a proteção de um deus específico que era mantido num magnífico templo construído para ele e seu séquito sempre numeroso. Como acontece até hoje, arrecadavam dinheiro e administravam as finanças do templo; como esses deuses eram apenas uma fantasia, o dinheiro era utilizado para benefícios próprio e manter as mordomias. Também, como acontece até hoje, o templo era dono de enorme quantidade de bens e terras. O complexo religioso dominava a cidade tanto física como socialmente; seus amplos pátios, depósitos e habitações, bem como as salas de culto que ficavam elevadas sobre uma plataforma situada acima das vivendas amontoadas no setor mais baixo da cidade. 
             Os responsáveis por esse desenvolvimento no sul da Mesopotâmia foram os sumerianos, os criadores da primeira literatura do mundo. A enorme arrecadação dos templos foi um fator decisivo para o desenvolvimento da escrita. A crescente complexidade das contas nos templos obrigou-os a emitir os primeiros recibos, partindo da primeira escrita pictografadas, que já se encontrava em uso desde 3.100 a.C. 
              A administração dessas primeiras civilizações foi muito beneficiada pela invenção da escrita. Os registros escritos encontrados foram  para ajudar os mercadores a fazer contas. Em Tell Brak foram encontradas tábuas de argila contendo material escrito, datados de 3,200 a. C.que provavelmente são as inscrições mais antigas do mundo. Por volta de 2800 a.C., as inscrições tinham-se reduzido a símbolos convencionais feitos em tábuas de argila, batidas de forma de cunha. A esses elementos, os descobridores deram o nome de "escrita cuneiforme". 
                Quase tão valiosa como a invenção da escrita foi a medição do tempo e a criação do calendário. Foi dos sumerianos que herdamos a divisão da hora em 60 minutos e um minuto em 60 segundos; o dia de 24 horas teve origem na combinação da medição do tempo na Mesopotâmia e no Egito. O próprio calendário de 365 dias foi criado no Egito. Chegar a esses números exigiu grande conhecimento matemático.
                 Por volta de 1800 a.C., os escribas dos templos de Sumer e da Babilônia tinham criado a tabuada, já trabalhavam com frações e até podiam resolver equações de segundo grau. Portanto, foram os mestres da ciência exata dessa época que assentaram as bases das matemáticas modernas. 
                Se confiarmos nos geólogos, as áridas regiões da Àsia Central já foram mais úmidas, temperadas e nutridas por grandes lagos. A recessão da última onda de gelo lentamente ressecou essa área, e a falta de chuvas já não permitiu ali a expansão do homem em Cidade s e Estados. As cidades existentes foram abandonadas, á proporção que os homens refluíram em várias direções à procura de água; semienterradas no deserto jazem ruínas como as de "Bactra", que devia ter esfervilhado de população dentro da sua área de 22 milhas de circunferência. Em 1868 uns 80.000 habitantes do Turquestão ocidental foram obrigados a emigar; suas terras estavam sendo inundadas de areia solta. Muitos estudiosos admitem que essas regiões, hoje mortas, assistiram aos primeiros desenvolvimentos do que constitui a civilização. 
               Em 1907 Pumpelly desenterrou em "Anau", ao sul do Turquestão, vasos e outros remanescentes duma cultura possivelmente datável de 9.000 anos as.C., e também outra possivelmente de 4.000 anos a.C.  Cultivavam-se cereais, usava-se o cobre, domesticavam-se animais e ornavam-se em estilo que sugere muita tradição anterior. Aparentemente a cultura do Turquestão já era velha em 5.000 a.C. Talvez até possuísse historiadores que investigavam o passado, na vão procura das origens da civilização, e filósofos que eloquentemente lamentavam a degeneração duma raça decadente. 
                Deste centro, um povo tangido pela seca emigrou em três direções, levando consigo suas artes e sua civilização. Essas artes foram ter à China, à Manchúria, à América do Norte; ao sul da Índia; e a oeste a Elam, à Suméria, ao Egito e mesmo à Índia e a Espanha. Em Susa, na antiga Elam (hoje a moderna Pérsia), foram encontrados restos tão semelhantes aos encontrados em Anau que a hipótese de migração muito se afirma. Um igual parentesco de artes e produtos sugere id~entica ligação histórica entre o Egito e a Mesopotâmia. 
                Não podemos ter certeza sobre qual destas culturas apareceram em primeiro lugar, o que, aliás, pouco importa. Se aqui voltarmos honrosos procedentes e colocarmos Elam e a Suméria antes do Egito, não o faremos por espírito de inovação, mas porque a idade destas civilizações asiáticas, comparada com as da África e da Europa, aumenta à proporção que o nosso conhecimento a respeito cresce. Todas as probabilidades são hoje de que o rio Delta, dos rios da Mesopotâmia, fosse o espectador das mais velhas  cenas do drama histórico da civilização. 
                Sempre que olhamos para o passado, inevitavelmente encontraremos populações que foram extintas como a Polinésia (ilha da Páscoa) e Atlântida.
                 É certo que provavelmente já existiram muitas civilizações que por razões diversas desapareceram. Não podemos deixar sem menção as lendas correntes sobre civilizações destruídas por catástrofes da natureza ou por guerras e que deixaram traços visíveis atrás de si; o recente desaparecimento das civilizações de Creta, Suméria e do Iucatã vem dar apoio a essas lendas. 
               O Oceano Pacífico acumula as ruínas de, pelo menos, uma dessas perdidas civilizações. A gigantesca estatuária da Ilha da Páscoa, a tradição Polinésia de poderosas nações que, em tempo remotíssimo, se formaram na Samoa e no Taiti, a capacidade artística e a sensibilidade poética de seus atuais habitantes, indicam uma glória passada, mostram um povo que não se está erguendo para a civilização, mas que decaiu da civilização para um estado inferior. É no Oceano Atlântico, da Islândia ao Polo do Sul, a elevação central marítima dá algum apoio à lenda que Platão, de modo tão fascinante, nos transmitiu, da civilização florescida num continente situado entre a Europa e a Ásia e que de súbito foi tragado por uma subversão geológica. Schilieimann, o ressuscitador de Troia, admitia que a Atlântida fosse a ligação entre as culturas da Europa e do Iucatã, e que a civilização egípcia proviera da Atlântida. Talvez a própria América fosse parte da Atlântida, e alguma cultura pré-maia estivesse em contato com a Europa e a África nos tempos neolíticos. Possivelmente cada descoberta é uma redescoberta. 
               Também muito provável, como o admitiu Aristóteles, que várias civilizações se formaram, com grandes invenções e luxo, e foram destruídas e obliteradas da memória humana. A história, disse Bacon, é um palco de naufrágios; o que se salvou do passado é muito menos que o que se perdeu. Nós nos consolamos com o pensamento de que assim como a memória individual perde a maior parte das experiências do homem por motivos de sanidade, ou insanidade, assim também a raça humana só preservou das suas experiências culturais o que era mais vivido - ou mais bem fixado. Mesmo que essa herança racial fosse apenas um décimo mais rica do que é, ninguém poderia absorvê-la toda. A história já está muito cheia. 
                O homem moderno, mais do que nunca, corre o risco de extinção. Vários fatores estão presentemente ameaçando a raça humana e também os demais seres vivos que com ele coabitam.  Vírus poderosos ameaçam dizimar populações inteiras, como pé o caso do Ebola; as superbactérias, para as quais o ser humano não está conseguindo antídoto eficaz; o aquecimento global que, pouco a pouco, está provocando a invasão das terras próximas ao mas; a poluição ambiental que irá transformar o organismo dos atuais seres vivos. A cada dia fica mais presente a ameaça de um cataclismo nuclear. Explosões estranhas que estão acontecendo no sol e que os cientistas ainda não conseguiram entender. 25 supervulcões espalhados pelo mundo que estão lentamente expelindo gases estranhos, até então nunca observados. Os pontos negros e os meteoros gigantes que se aproximam lentamente da terra, são algumas das mais palpáveis ameaças à raça humana e a outros seres vivos aqui existentes. Certamente daqui a talvez mil anos, uma civilização bem avançada irá estudar o que aconteceu co a nossa atual civilização. A questão não é se isso irá acontecer, mas sim quando acontecerá. 


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quarta-feira, 18 de dezembro de 2019

HISTÓRIA DA PIRATARIA - PIRATAS E CORSÁRIOS DO MAR.



Conhecer um pouco da história da Pirataria é importante para conhecermos a índole (extremamente cruel) do ser humano que, infelizmente, ainda prevalece nos nossos dias chamados de "civilizados". Quando mais conheço a história da humanidade, mais amo os animais.

                  Quando ouvimos falar em piratas dos mares, imaginamos que eram apenas bandidos salteadores que navegavam somente para saquear outros navios. Mas não era bem assim. 
             A história da pirataria faz parte da própria história da navegação. Desde os tempos mais antigos, quando surgiu as primeiras marinhas, os navegadores mais atrevidos foram mercadores e guerreiros que sulcavam os mares impelidos pelo desejo de ganho ou conquista, mas que, se a ocasião se apresentasse, assaltavam e depredavam as cidades costeiras ou os barcos que encontravam em sua rota. 
              Os piratas da Malásia constituíram, cerca de 1800, um verdadeiro pesadelo para os barcos europeus que sulcavam as águas em volta de Bornéu, Sumatra e Nova Guiné. 
             Se os Fenícios foram famosos como navegadores e comerciantes, merecem sê-lo também como piratas, profissão esta que não consideravam em nada desonrosa.  Por muito tempo, a aparição de seus navios compridos e finos, pintados de preto, foi recebida com justificável temor em todo o Mediterrâneo. Navegadores e, conforme a ocasião, piratas, foram os Pelasgos, os Helenos e os Egípcios; navios piratas, na antiguidade, infestavam os mares e as costas da Dalmácia, da Ásia Menor, da Argélia e do Marrocos. 
             Vencida Cartado e as cidades aliadas, Roma precisou tomar medidas excepcionais para combater a pirataria que se havia grandemente  difundido durante a guerra contra Mitridates. os Piratas, especialmente os cilícios, que tinham suas tocas na costa meridional da Ásia Menor e nas Ilhas Egeias, capturavam as embarcações mercantis romanas e ameaçavam continuamente as costas da República. Contra ele Pompeu conduziu, em 67 a.C., uma grande expedição militar e, em oitenta e sete dias, destruiu-os. 
             Após a queda do Império Romano, a pirataria refloresceu e, durante toda a Idade Média, os ladrões do mar encheram as crônicas com suas proezas. 
            Quando, com a descoberta do Novo Mundo, os tráficos marítimos transferiram-se do Mediterrâneo para o Atlântico e o pacífico, a pirataria encontrou, nas novas rotas, a isca convidativa das imensas riquezas que da América eram comboiadas para a Europa. E não devemos esquecer, neste quadro, os longínquos mares do Oriente, onde Chineses, Japoneses, Polinésios e Hindus exercitavam a pirataria desde quando as primeiras pirogas e os primeiros juncosa foram embalados pelas ondas. 
      Durante muitos séculos, embarcações e localidades costeiras da China foram, frequentemente, saqueadas por assaltantes vindos do vizinho arquipélago do Japão. 
            Em qualquer época, então, e sobre todos os mares, sempre houve aventureiros que julgavam mais conveniente e menos perigoso  apoderar-se de mercadorias  pela violência. Mercadorias essas que gente honesta costuma adquirir pagando um preço justo. Por vezes, porém, o fenômeno da pirataria não se limita a uma ação de banditismo isolada no mar. Ele se torna mais vasto e adquire uma notável importância no quadro dos acontecimentos históricos. Os Vikings disso são uma exemplo. A escassez de terra cultivável em sua pátria compeliu-os a viver de saque e rapina e, durante cinco séculos, aterrorizaram as costas da Europa. Nestes casos, a pirataria transforma-se em guerra, como acontece ao tempo dos corsários barbarescos que infestavam o mediterrâneo e participam da batalha de Lepanto, ao lado dos navios do Islã. Outro exemplo de prataria organizada, de vastas porções, característica de uma histórica,é dado pela associação dos flibusteiros, que se desenvolveu no século XVII, nas águas das Índias ocidentais.  
             A este ponto precisamos explicar o significado de dois termos - "pirata e corsário" - que, geralmente, são erroneamente empregados como sinônimos. 
                 Piratas são os ladrões do mar, que assaltavam, indiscriminadamente, os navios, para tomar-lhes a carga e, antigamente, para vender como escravos os marinheiros da tripulação. os corsários também assaltavam os navios para saqueá-los, mas sua ação era exercida somente contra as naus de uma nação inimiga de sua pátria. Eles andavam munidos de uma comissão legal ou autorização de seu soberano para exercer a guerra de corso; esta "carta patente"fazia com que os considerassem como combatentes, ao passo que os piratas, quando abanhados e castigados sem remissão e depois enforcados como criminosos comuns,  sobre o mastro do barco que os capturava. 
            Assim, diante dessa distinção, um corsário sentir-se-ia grandemente ofendido se o chamassem de pirata ou bandido do mar; julga-se, portanto, que o pirata era pior do que o corsário, mas, na prática, houve corsários que se comportaram como piratas da pior espécie. O corsário, então, degenerava em pirata, e o "tribunal  das presas", que tinha a incumbência de julgar o comportamento dos corsários, nem sempre foi suficiente para fazer passar como ações de guerra legítima certos abomináveis atos de baixo banditismo.
                Com o progresso do poderio árabe, nos séculos IX e X , os países cristãos viveram sob a contínua ameaça dos piratas sarracenos que, partindo das costas da África setentrional, e da Espanha, infestaram com suas incursões toda a bacia mediterrânea, paralisando-lhe o comércio, devastaram-lhe as costas, conseguiram conquistar a Itália meridional, Sicília, e Provença, Rodes, Creta e as Baleares; no século IX, destruíram Taranto, chegaram a Roma e saquearam-lhe as igrejas. A república de Amalfi combateu-os duramente e o mesmo fez a poderosa frota de Bizâncio. No século XI, os Sarracenos estavam praticamente destruídos, mas, depois de quatrocentos anos, seus feitos foram repelidos e superados pelos piratas barbarescos, que geralmente imperavam sob as ordens dos sultões turcos. Eles eram habilíssimos marinheiros, além de audazes aventureiros. 
           Entre estes salteadores, recorde--se o famoso Khair-ad-din, conhecido como "Barbaroxa" que foi senhor de Argel e de Tunísia, almirante da frota turca, cerca de 1535. Seus sucessores ocuparam a região compreendida entre marrocos e Tunísia. 
             As costas do mediterrâneo ofereceram seguros abrigos aos piratas, mas estavam também sujeitos às incursões dessa gente. Frequentemente, os Sarracenos desembarcavam nas costas da Itália meridional, saqueando e reduzindo à escravidão os habitantes que não conseguissem fugir. Com o decorrer do tempo, aventureiros europeus de qualquer nacionalidade juntaram-se aos Barbarescos, cujo poderio aumentou sempre mais até tornar inseguras também as rotas e as costa do Mar do Norte. Apesar dos esforços das esquadras inglesas, francesas, holandesas e espanholas, a pirataria barbaresca não dava mostras de desaparecer e, ainda em 1829, muitos países mediterrâneos, como a sardenha, Nápoles, a toscana e outros, pagavam um tributo ao soberano de Argel para não verem seus barcos sistematicamente atacados e depredados. No ano seguinte, a França ocupou Argel e então a livre navegação no Mediterrâneo ficou assegurada. 
               As florescentes repúblicas marinhas italianas, muitas vezes, por causa dos ataques dos piratas, as preciosas cargas que seus navios traziam do Oriente. Sobretudo as aguerridas galeras venezianas deram, durante anos,  caça sem trégua, por vezes inúteis, às embarcações barbarescas que cruzavam o Mediterrâneo, tornando inseguros os ricos tráficos da Sereníssima. 
                Na luta secular contra os barbarescos, distinguem-se os corsários "patente de corso", eles combateram, no mar, os inimigos do Rei da França. Tinham como importante sentido da honra e suas tarefas jamais degeneraram em atos de baixa pirataria; o Rei recompensou-os com graus militares e com títulos nobiliários. O mais famoso de todos foi Jean Bart, honrado como herói nacional.  Em 1672, quando Luiz XIV declarou guerra à Holanda, Jeam Bart tinha 22 anos, mas sua forma de audacíssimo e hábil marinheiro j´pa estava tão consolidada que recebeu o comando de um navio de corso, o Rei Davi. Era uma modesta galeota de 35 toneladas, mas para o corajoso Bart, foi suficiente para atacar e capturar, em sua primeira sortida, sete navios mercantes holandeses. Ao fim da guerra, em 1678, Bart, agora com 28 anos, vencera dez batalhas. Já estava rico, tendo recebido do "tribunal das presas" uma parte dos enormes despojos do inimigo, e o r"Rei Sol" demonstrou-lhe seu agrado, nomeando-o tenente de fragata da marinha real e enviou-o contra os piratas barbarescos. 
                Em 1688, deflagrou a guerra entre a França e a Inglaterra, e Bart exibiu ainda seus incomparáveis dotes de marinheiro e de corsário, efetuando proezas que tem algo de fabuloso. Nomeado cavaleiro de São Luiz e almirante, morreu aos 53 anos, devido a um banal resfriado, após haver arriscado a vida centenas de vezes. Durante três séculos sua família tinha exercido a pirataria; seu avô e seu pai tinham sido mortos quando iam à abordagem, e um seu tio fizera explodir seu barco, com ele dentro, para não cair nas mãos dos ingleses que o circundavam. Os Bart eram originários de Dunquerque, e isso explica sua singular vocação. 
            Realmente a pequena cidade de Dunquerque, de tranquilo centro de pescadores transformara-se em um terrível covil de piratas, após complicadas vicissitudes de domínio, de lutas religiosas e de interesses econômicos, que determinaram em seus habitantes um implacável ódio contra os Ingleses e, especialmente, contra os Holandeses. Os piratas de Dunquerque, favorecidos pela sua posição, interceptaram facilmente os navios de carga que atravessaram o Passo de Calais e caíram sobre eles com seus velozes barcos de fundo chato. 
                No século XVI, o campo de ação da pirataria estendeu-se às novas todas do Atlântico, ao Mar dos Caraíbas, ao Golfo do México, e as Índias Ocidentais foram teatro de novas empresas de banditismo, conduzidas com incrível audácia e, frequentemente, com desalmada ferocidade. Os corsários da rainha Elizabeth, os flibusteiros e os bucaneiros já inspiraram inúmeros romances, mas se pode afirmar que a realidade esteve bem acima da fantasia dos romancistas. 
                Também neste período, a pintura assumiu o especto de característico histórico. Depois da viagem do Colombo, a colonização foi aos poucos se afirmando no Novo Continente, onde surgiram portos, como maracaibo, Santa Maria, Puerto Cabelo, Vera cruz e Panamá. Este último era o coração do império, para onde afluíram todas as riquezas das terras conquistadas, o ouro das minas, dos templos, dos palácios do Incas, as pedras preciosas dos Andes e as especiarias das Filipinas. Do Panamá, os tesouros eram transportados, no lombo de mulas, através do Istmo, e carregados para Nombre de Dios ou Puerto Cabelo, para os navios que viajavam rumo à Espanha. Da metrópole, expediam-se para as colônias os produtos indispensáveis para sua subsistência: manufaturas, tecidos, utensílios, mas em quantidade insuficiente às necessidades. O governo espanhol impusera o mais absoluto monopólio sobre o comércio entre o Velho e o Novo Mundo, nos quais, em consequência, se sentia falta de muitos bens de consumo. Surgiu, assim, o contrabando e, deste,à pirataria, o passo foi breve. Já em 1636, um navio de contrabandistas franceses apoderou-se de uma embarcação espanhola e, sucessivamente, a pirataria assumiu proporções tais que ameaçava seriamente o poderoso espanhol. Em 1568, as proezas do inglês Hawkins, contrabandista, pirata e negreiro, eram considerados como legítimas pelos seus compatriotas, como protesto pela hegemonia da Espanha. Com ele, iniciou sua carreira Francis Drake, que se tornou um dos mais famosos corsários de todos os tempos. 
              Francis Drake, em 1572, na idade de cerca de 30 anos, chefiava uma audaz expedição contra a cidade de Nombre de Dios e, ao voltar para a Inglaterra, sua fama lhe valeu a admiração e o apoio da rainha Elizabeth. As relações políticas com a Espanha andavam muito tensas e a rainha aprovou um arrojado plano Drake, contribuindo até, pessoalmente, com mil coroas para seu financiamento. Drake propunha-se ferir o império espanhol, ou melhor, atacá-lo pelas costas, de surpresa, em suas cidades riquíssimas, na costa do Pacífico, que estavam pouco ou nada defendidas, porque se consideravam ao abrigo das incursões pelo mar. Ele partiu de Plymouth, em 1577, com cinco navios. Refazendo o roteiro de Magalhães, tocou por primeiro em Cabo Horn e entrou no Pacífico, caindo sobre alguns espanhóis e sobre localidades do litoral. Em primeiro lugar, seguiu para o norte, rumo à baia onde surge, hoje, São Francisco; depois seguiu para o oeste, tocou nos Molucas, dobrou o cabo da Boa esperança e, após três anos de ausência, voltou para Plymouth, com um único navio e a tripulação dizimada, mas carregado de despojos. Foi recebido como um triunfador e, nomeado vice-almirante, conduziu com alterna fortuna, mas com constante coragem, outras numerosas expedições. Obteve, ainda, da rainha, um título nobiliário. 
             Nas pegadas de Hawkius e Drake operaram Clifford, Cavendisk, Norton, Frobisher, Raleigh, corsários ou piratas, segundo as circunstâncias. Mas foi justamente neste período que se afirmou o poderio marítimo inglês, retirando da Espanha a hegemonia do mar. Elizabeth promoveu e encorajou, de todos os modos, a guerra de corso, em vantagem da Inglaterra e do tesouro real. Concedeu sua proteção a Sir Waltyer Releigh que, para conservar a amizade da Rainha, homenageou-a com um quinto da imensa presa arrancada dos espanhóis na expedição de 1591. Depois da morte de Elizabeth, a sote de releigh mudou; por ordem de James I, foi decapitado. 
                 A Rainha Elizabeth gostava de ouvir da boca do Drake a narrativa das aventuras por ele vividas em suas viagens em volta do mundo. O nome de Francis Drake, famoso por suas proezas, está também ligado á história da navegação e das descobertas geográficas e, curioso pormenor, ao grande corsário se atribui a entrada da batata na Europa. 
                Com a descoberta da América, os corsários ingleses, holandeses e franceses, sob o patrocínio de seus governos, começaram a bater as rotas do Atlântico, dando caça aos galeões espanhóis. Estes grandes e pesados navios, que Drake chamava de "patos dourados", constituíam a presa mais cobiçada porque transbordavam de tesouros que a América, a nova fonte de riqueza oferecia. 
              Após os grandes capitães da época elisabetana, entraram em campo os bucaneiros, corja de bandidos ingleses, holandeses e, especialmente, franceses, que tinham em comum o ódio contra a Espanha, aliado à ânsia de se apoderarem de suas riquezas. 
               Haiti e as ilhas menores, abandonadas pelos conquistadores espanhóis, e despovoadas de bois e de porcos em estado selvagem. Marinheiros desertores, náufragos, fugitivos e aventureiros de toda espécie ali se haviam estabelecidos desde o início do século XVI e ali exercitavam a caça, levando uma vida assas primitiva, unidos numa espécie de sociedade denominada "Irmãos da Costa". A carne dos animais mortos era vendida aos navios de passagem, após ter sido salgada e defumada pelo método particular empregado pelos Caraíbas, que denominavam "bucan" aos lugares onde as preparavam. Desta palavra derivou o termo "bucaneiros", para indicar os caçadores. Mas, como os bucaneiros se tornavam sempre mais numerosos, os Espanhóis começaram a combatê-los, e, então, os caçadores se transformaram em piratas, estreitando a aliança com os "flibusteiros" ingleses, que tinham suas tocas nas costas da Jamaica. O vocabulário "flibusteiros" (que significou saqueador ou livre bandido) teve, por algum tempo, sentido diferente de "bucaneiro", mas, depois, ambos os termos foram sendo confundidos e serviram para designar, em geral, os piratas das Antilhas. A ilha da Tortuga (Tartaruga) foi a muito bem defendida fortaleza dos bucaneiros e a escala de todos os navios que, naquelas paragens, se dedicavam ao contrabando e á pirataria. 
               Aquele que por primeiro conduziu os bucaneiros a uma ação em grande estilo foi um vandeano, o Jean David Francóis Nau, cognominado o Olonês, o malfeitor mais sanguinário e feroz que jamais infestou os mares. 
              Em 1667, ele eoixou a Trotuga, comandando oito navios, com 400 homens, e depredou as cidades de Maracaibo e Gibraltar, torturando os habitantes, incendiando e destruindo tudo. Depois de outras proezas deste naipe, Olonês acabou prisioneiros de uma tribo de índios, que o esquartejaram. Certamente mais famoso do que o Olonês, mas não menos feroz e ávido, foi o irlandês Henbry Morgam, que iniciou sua carreeira na jamaica como flibusteiro, e na Jamaica a concluiu, com o título de Sir e com o cargo de Vice-governador da ilha, obtidos do rei da Inglaterra Carlos II, em reconhecimento às suas ações de guerra contra a Espanha. Mas os seus foram, acima de tudo, atos de salteador; a tomada de Puerto Cabelo concluiu-se com uma carnificina e com um saque que duraram quinze dias. As populações de Maracaibo  e de Giubraltar foram submetidas a incríveis torturas; Panamá foi destruída por um incêndio. E esta última empresa foi realizada quando a Inglaterra e Espanha mal haviam firmado um tratado de paz. 
              Henry Morgan, que viveu no século XVII, passou à história como uma das mais cruéis figuras da "guerra do corso". Embora fosse um corsário, geralmente, seus feitos eram ainda mais desalmados do que os dois piratas. Entre vários episódios que demonstram sua absoluta falta de humanidade a respeito dos prisioneiros, basta recordar o seguinte: para conquistar a fortaleza de Puerto cabelo, ordenou aos seus bandidos que levassem diante de si, como escudo, frades e freiras, capturados nos conventos da cidade; os religiosos foram todos massacrados. Mas nem todos os corsários foram tão cruéis como Morgam Drake; por exemplo, muitos foram generosos e leais para com os inimigos vencidos. 
               Em fins do século XVII, os flibusteiros foram perseguidos e depois dispersos, também pela França e pela Inglaterra, que até então os haviam favorecido, em consideração aos danos que causaram ao comércio espanhol. 
            Em sua breve carreira de pirata, o capitão Bartolomeu Robert capturou quatrocentos navios. Vestia-se sempre de vermelho e proibia aos seus homens que jogassem dados aos domingos. Era abstêmio, mas, quando foi surpreendido por uma belonave inglesa, sua turma estava embriagada. Roberts morreu no tombadilho do seu barco. 
               Uma volta à pirataria verificou-se depois do tratado de Utrecht (1713), quando, tendo ficado decidido o desarmamento dos navios de guerra e de corso, muitos capitães preferiram às paz o banditismo no mar. A ilha da Providência, ao sul da Flórida, foi refúgio dos piratas com bandeira de crânio e tíbias cruzadas. E os tristes heróis do Jolly Roger chamaram-se Roberts, Teach, "Barbanegra", capitão Kid, John Avery. Muitos desses delinquentes morreram na forca, castigados pelos seus próprios compatriotas. 
               A guerra de corso teve um despertar em 1806, quando a Inglaterra instituiu o bloqueio aos portos franceses e Napoleão Bonaparte resolveu fechar o Continente às mercadorias britânicas. Ainda algum episódio de pirataria se verificou em todo o século passado, especialmente nos mares orientais, mas também no Mediterrâneo. 
              Durante o  conflito de 1914 x 1918, alguns navios alemães conduziram guerra de corso nos oceanos. O Endem, que, ao deflagar a guerra, se encontrava na China, os os cruzadores auxiliares de Möwe, Wolf e Seeadler, que conseguiram furar o bloqueio britânico às águas germânicas, foram os últimos navios corsários. 
                Em 1826, José Garibaldi encontrava-se no Bergantim "Costanza", que foi depredado, no Egeu, por dois caiaques de piratas gregos. A Grécia estava, então, em revolta contra os Turcos, e seus corsários assaltavam as galeras dos dominadores. Não faltam, porém, os piratas que, impelidos pela miséria, atacavam barcos de outras nacionalidades. 
          A seguir, a navegação a vapor, o controle dos mares, a radiotelegrafia, puseram termo a esse fenômeno que, se por vezes se revestiu de certos aspectos sugestivos e romanescos, foi, certamente, um dos mais tristes na longa história da Humanidade. 
             Hoje, com muita frequência, usa-se o nome da democracia para forjar as grandes atrocidades que o mundo continua assistindo. Hitler subiu ao poder em nome do povo alemão, e não é preciso lembar as gigantescas atrocidades que promoveu, até mesmo contra o próprio povo que o elegeu. Muamar Kadafi, um ditador recente, tomou o poder ainda muito jovem e durante 42 anos torturou, principalmente jovens mulheres de sua guarda pessoal e crianças que mantinha em seu harém; diante do resto da humanidade posava de grande estadista. Agora temos novos ditadores atuando pelo mundo. Muitos sobem ao poder com o único objetivo de enriquecer ilicitamente saqueando o próprio pais e  seu povo que o elegeu. Não preciso dar detalhes porque o povo brasileiro conhece bem essa história. São os piratas da moderna civilização.
              




terça-feira, 17 de dezembro de 2019

OS PRINCIPAIS FATOS DO ÚLTIMO MILÊNIO

  • Ano 1000 - Os chineses usam a pólvora em fogos de artifício.
  • Ano 1026 - Guido d'Arezzo introduz a clave de sol (dó, ré, mi, fá...) 
  • Ano 1066 - O normandos conquistam a Grã-Bretanha. 
  • Ano 1089 - o papa Urbano II conclama os cristãos á primeira cruzada. 
  • Ano 1206 - Genghis Khan transforma-se no líder dos mongóis. 
  • Ano 1215 - Fundação das modernas democracias com a assinatura da carta Magna. 
  • Ano 1258 - Os mongóis conquistam Bagdá. 
  • Ano 1271 - Marco Polo parte de Veneza rumo á China. 
  • Ano 1273 - Summa Theológica de Tomás de Aquino. 
  • Ano 1300 - Início da renascença na Itália. 
  • Ano 1314 - dante Aliguieri escreve a Divina Comédia. 
  • Ano 1347 - A peste bubônica se alastra pela Europa. 
  • Ano 1428 a 1519 - Período em que o Império Asteca domina o México. 
  • Ano 1453 - Queda de Constantinopla. 
  • Ano 1455 - Joannes Gutemberg lança a primeira tiragem de 200 Bíblias compostas em tipografia. Até então eram escritas por escribas. 
  • Ano 1478 - A inquisição espanhola é promovida pelos reis Fernando e Isabel. 
  • Ano 1492 - Cristóvão Colombo descobre a América. 
  • Ano 1500 - Pedro Alvares Cabral descobre o Brasil. 
  • Ano 1513 - Maquiavel escreve "O Príncipe". 
  • Ano 1517 - Martinho Lutero lança as 95 teses de reforma da Igreja. 
  • Ano 1543 - Nicolau Copérnico estabelece o postulado segundo o qual o Sol é o centro do Universo. 
  • Ano 1582 - O papa Gregório XIII introduz o calendário utilizado até nossos dias. Antes havia o calendário Juliano de Júlio Cesar (100 a 44 a.C.) 
  • Ano 1592 - Willian Shakespeare torna-se uma celebridade na dramaturgia inglesa. 
  • Ano 1609 - Galileu faz a primeira observação astronômica com um telescópio. 
  • Ano 1637 - Descartes cria a geometria analítica. 
  • Ano 1664 - Moliére termina o Tartufo. 
  • Ano 1721 - Bach compõe o Concerto de Brandemburgo. 
  • Ano 1764 - Início da revolução Industrial na Inglaterra. 
  • Ano 1760 - Mozart, aos 8 anos, escreve sua primeira sinfonia. 
  • Ano 1776 - Declaração de independência dos Estados Unidos. 
  • Ano 1785 - Herschei mapeia a Via Láctea. 
  • Ano 1789 - Queda da bastilha. 
  • Ano 1815 - Batalha de Waterloo. napoleão é derrotado.
  • Ano 1822 - D. Pedro I declara Independência do Brasil. 
  • Ano 1826 - Niepce faz a primeira fotografia. 
  • Ano 1846 - O dentista Willian Morton aplica éter em um paciente e realiza a primeira cirurgia sem dor. 
  • Ano 1848 m- Marx e Engels escrevem o Manifesto Comunista. 
  • Ano 1859 - Charles Darwin publica "A Origem das espécies". 
  • Ano 1860 - Leonoir desenvolve o primeiro motor de combustão interna. 
  • Ano 1865 - O presidente americano Abrahan Linconln é assassinado. 
  • Ano 1867 - O Japão põe fim ao período Shogun e inicia a modernização da sua sociedade. 
  • Ano 1876 - Graham Bel patenteia o telefone. 
  • Ano 1879 - Thomas Edison constrói a lâmpada incandescente com filamento de carbono. 
  • Ano 1880 - Inglaterra, Bélgica, França, Alemanha, Itália, Portugal e Espanha iniciam a colonização da África. 
  • Ano 1885 - Dalmier e Benz desenvolvem o motor a gasolina. 
  • Ano 1888 - O Brasil abole a escravatura. 
  • Ano 1891 - Friedrich Nietzsche publica: Assim Falou Zaratustra.
  • Ano 1895 - Os Irmãos Lumière projetam o primeiro filme de cinema. 
  • Ano 1896 - Marconi realiza a primeira transmissão por rádio. 
  • Ano 1898 - Pierre e Marie Curie descobrem a radioatividade. 
  • Ano 1899 - Sigmund Freud publica "A Interpretação dos Sonhos".
  • Ano 1903 - Os Irmãos Wrigth põe no ar o primeiro aeroplano. 
  • Ano 1905 - Albert Einstein anuncia a teoria da relatividade: E=mc2. 
  • Ano 1906 - santos Dumont voa com o 14 bis. 
  •  Ano 1907 - Pablo Picasso e Braque fundam o cubismo. 
  • Ano 1912 - Rutherford descreve o átomo 
  • Ano 1914 - O assassinato de Ferdinando, da Áustria, em Sarajevo, precipita a 1 Guerra Mundial. 
  • Ano 1917 - Lenin lidera a revolução Bolchevique. 
  • Ano 1918 - Mulheres inglesas ganham o direito ao voto. 
  • Ano 1922 - Stalin assume a secretaria-geral do Partido Comunista Soviético. 
  • Ano 1926 - Baird faz a primeira demonstração da TV. 
  • Ano 1927 - O Cantor de Jazz é o primeiro filme falado. 
  • Ano 1928 - Alexandre Fleming descobre a penicilina. 
  • Ano 1929 - Crash da Bolsa de Nova York. 
  • Ano 1933 - Adolf Hitler é eleito chanceler da Alemanha. 
  • Ano 1939 - A Alemanha invade a Polônia. Começa a II Guerra Mundial. 
  • Ano 1945 - A bomba atômica é jogada em Hiroshima e Nagasaki. É criada a ONU. 
  • Ano 1949 - Mao Tsé-tung lidera a Revolução Chinesa. 
  • Ano 1951 - Pincus inicia a pesquisa sobre a pílula anticoncepcional.
  • Ano 1953 - Crick e Watson  descrevem a estrutura do DNA.
  • Ano 1957 - A União Soviética põe no espaço o primeiro satélite. O Sputnik I.
  • Ano 1959 - Che Guevara e Fidel Castro derrubam o ditador cubano Fulgêncio Batista. 
  • Ano 1962 - Abertura do Concílio Vaticano II, pelo papa João XXIII. 
  • Ano 1963 - John Fitzgerald  Kennedy é assassinado em Dallas. 
  • Ano 1965 - os Estados Unidos começam o bombardeio mais pesado no Vietnã. 
  • Ano 1966 - A Xerox lança a primeira máquina de "fax" da História. 
  • Ano 1967 - O sul-africano Christian Barnard realiza o primeiro transplante de coração. 
  • Ano 1968 - Os estudantes vão às ruas em Paris. 
  • Ano 1969 - Pelé faz o milésimo gol. Armstrong e Aldrin andam na Lua. Surge o primeiro videocassete da Sony. 
  • Ano 1971 - A Intel põe no mercado o primeiro microprocessador. 
  • Ano 1972 - Pong, o primeiro videogame é lançado no mercado. 
  • Ano 1975 - Bill gates e Poul Allen fundam a Microsoft 
  • Ano 1976 - Steve Jobs lança o Apple I. 
  • Ano 1978 - Em 16 de outubro,Karol Joseph Wojtyla torna-se papa João Paulo II. Louise Brown é o bebê de proveta número 1. 
  • Ano 1979 - Walkman, da Sony entra no mercado. 
  • Ano 1981 - A  IBM lança o PC. 
  • Ano 1982 - O computador é escolhido "a máquina do ano" pela revista Time. Surge o primeiro produto comercial resultante da engenharia genética: a insulina humana. 
  • Ano 1989 - Cai o Muro de Berlin. 
  • Ano 1990 - Surge a Word Wide Web. 
  • Ano 1991 - A  CNN transmite a Guerra do Golfo ao vivo. Gorbachev é apeado do poder. É o fim da União Soviética. 
  • Ano 1997 - A ovelha Dolly mostra sua cara. 
  • Ano 1988 - O grande escãndalo sexual entre Bill Clinton, presidente americano, e Mônica Lewinsky.
  • Ano 1999 - Acesso gratuito à Britânica na internet. 
A evolução humana continua acelerando de forma geométrica. No último século do milênio o mundo progrediu mais do que em toda a sua história conhecida. Para onde vamos? 

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segunda-feira, 16 de dezembro de 2019

A GRÉCIA ANTIGA - SUA CULTURA E FORMA DE VIVER



                  A Grécia é uma península, no Mediterrâneo, situada ao sul da Europa. Muito antes de século IV a.C. a civilização grega se estendia não só aos arquipélagos do mar Egeu e à Asia Menor, mas também às costas setentrional da África e meridional da Itália, onde se estabeleceram importantes núcleos de povoamento. 
               O relevo da península dividia a Grécia em pequenas regiões naturais, nas quais se formaram as cidades gregas. Cada uma delas tinha governo próprio e independente, constituindo-se em verdadeiros Estados (sec.V a.C.) Por ser a Grécia cheia de colinas, as cidades foram erguidas em vários planos, ligados por escadarias. 
                    As cidades que mais se destacaram foram Atenas, Esparta e Tebas. 
                 Os espartanos dedicavam a vida á guerra. Esparta era conhecida como a terra dos homens de ferro. Todos os espartanos eram soldados treinados desde a infância. O casamento tinha como principal finalidade produzir soldados sadios. O recém-nascido que não passasse no exame físico era desclassificado e, por ordem do estado, arremessado num precipício. Só os mais capazes tinham direito de sobreviver. Era muito comum que os maridos entregassem suas esposas para engravidar de homens mais fortes com o objetivo de ter uma prole com maior capacidade física. 
                 A lei proibia aos espartanos que negociassem ou possuíssem dinheiro. Reuniam-se em comunidades onde ricos e pobres viviam e comiam juntos. 
                 Os atenienses eram uma raça de sábios e artistas. Na escola ao ar livre, os alunos aprendiam a cantar e tocar instrumentos. Na Grécia Antiga a música tinha tanta importância quanto a aritmética. As crianças eram levadas á escola pelo escravo de confiança da família. Ele tinha a responsabilidade de levar também a lira, que era o instrumento musical dos adolescentes gregos. É como se fosse a guitarra elétrica de um adolescente moderno. 
                A roupa grega era feita em casa e o artesanato da tecelagem, embora caseiro, era bem especializado. Eram tecidos por mulheres em teares verticais, distribuídos num pátio da residência.
                  Certas tarefas eram consideradas impróprias para membros de famílias mais ricas. Por isso eram confiadas a escravos, que se encarregavam da maior parte dos trabalhos braçais cansativos. Num passeio pela cidade, a escrava carregava a sombrinha que protegia sua ama. 
              A Ágora era numa grande praça no centro da cidade onde se localizava o mercado que geralmente ficava próximo do templo. O templo não se destinava apenas a atividades religiosas, mas era também um centro de reuniões sociais e políticas. Ali se realizavam importantes discussões públicas e comícios políticos. 
              Já naquele tempo havia jovens rebeldes com seus carros esportes puxados por belos e velozes cavalos. Era uma espécie de carro de passeio, muito leve e rápido. 
              O senhor grego sustentava-se principalmente de azeitonas, vinho e cereais. O solo grego é muito favorável ao plantio da oliveira e, já na antiguidade, o azeite era um importante produto de exportação. 
                O senhor grego costumava levantar-se ao nascer do sol e então mergulhava um pedaço de pão de trigo num copo de vinho e fazia uma oferta de curta prece ás estátuas de Zeus, Deméter e Atena. Em seguida, entrava casualmente em casa de um amigo onde comia uns pedacinhos de peixe. Dali, com sua bengala na mão, seguia para a Ágora (Praça do Mercado) onde passava o dia discutindo negócios e política com amigos. 
            O cidadão nobre da Grécia não exercia nenhum trabalho manual como lavrar a terra e cuidar das oliveiras. Seus escravos se encarregavam disso. A mulher do cidadão educava as crianças, limpava os deuses caseiros, varria o pórtico de colunas e cuidava de sua aparência para estar bela quando o marido voltasse à tarde. Os meninos e meninas de famílias nobres iam para o ginásio, onde jogavam, em absoluta nudez, almoçavam pão, figos e vinho, e passavam a tarde tocando lira ou seguiam de carro em alegre excursão para o campo. Os rapazes tinham de prestar serviço militar e as moças passavam suas tardes em aulas de costura. 
            Entre os gregos, o amor entre home me uma mulher ficava em segundo plano. Era considerado necessário para a procriação, mas o amor ideal era entre homens. Por essa razão o homossexualismo era natural. Era muito comum o amor entre o mestre e  seu aluno favorito, filósofo e discípulo. Entretanto foi essa a principal acusação que levou Sócrates a ser processado e morto por "corromper" a juventude. Embora, na realidade, isso tenha acontecido exclusivamente por questões políticas. 
                No mercado vendiam-se os produtos da terra: trigo, cevada, lentilha, figos, nozes, mel, leite e queijo de ovelha e de cabra. As bancas de peixes eram muitas, mas as carnes vermelhas eram produtos escassos. O motivo é que o rebanho caprino e bovino era muito reduzido. Ir às compras era um privilégio dos homens. As mulheres ficavam em casa. 
              No casamento, a tradição grega determinava que os pais do noivo recebessem os recém-casados á porta de sua casa com tochas acesas nas mãos. O casal e o padrinho chegavam de carro. Um cortejo de amigos acompanhava os esposos a pé. 
           Os gregos eram altamente religiosos, mas, pelo fato de seus deuses possuírem as fraquezas e vícios dos homens, sua religião era considerada pagã. Frequentemente celebravam festas em honra dessa ou daquela divindade. 
            A arquitetura grega sempre foi muito avançada. Através de encanamentos subterrâneos, a água era trazida de nascentes distantes até a fonte pública. Buscar água na bica para o consumo diário era função feminina. As mulheres conduziam suas ânforas cheias de água sobre a cabeça que era protegida por uma almofada. 
              A cerâmica também era uma atividade essencial na vida grega. Além dos vasos de formas variadas - geralmente muito bonitos - os oleiros produziam ainda brinquedos: bonecas articuladas, carrinhos com rodas móveis, soldadinhos a cavalo e máscaras grotescas. Para maior facilidade de acesso à água, as olarias ficavam junto à fonte. 
                  O forjador de bronze era um artesão muito solicitado. Como a têmpera de metais exige muita água, sua oficina se situava junto á fonte. 
              Embora a cidade tivesse seus próprios hábitos, havia muita semelhança na vida dos gregos. 
              Foi a cultura grega que nos permitiu conhecer com certa profundidade sua forma de vida e seus hábitos que ficaram registradas tanto nas suas belas esculturas, como nos seus produtos preservados. os historiadores da época anotaram muita coisa interessante e a pesquisa histórica moderno fez o resto. 

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sábado, 14 de dezembro de 2019

A GRANDE MURALHA DA CHINA






                 Um jovem imperador obcecado pelo medo das invasões dos bárbaros, sacrificou uma geração inteira de seu povo para construí-la. 
               Dois mil anos mais tarde, na época da revolução Francesa, a Inglaterra era o país mais poderoso e adiantado do mundo; entretanto, um cientista daqueles tempos relativamente modernos disse que a Grande Muralha tinha mais tijolos e pedras que todos os edifícios então existentes nas ilhas Britânicas. Um matemático calculou que com os materiais empregados na sua construção se poderia erguer  um muro de 2.40 metros de altura por 90 centímetros de largura, que daria a volta à terra pelo equador. 
               A Grande Muralha começa às margens do mar e termina no planalto do Tibete, também conhecido  pela denominação de "Teto do Mundo". 
                  Estando na lua, talvez a única obra realizada pelo homem que poderia ser vista de lá sem telescópio seria a Muralha da China que, após 22 séculos permanece de pé como o maior feito do homem.
               Na verdade, as primeiras muralhas chinesas não foram construídas apenas como defesa de inimigos exteriores; a sua construção foi provocada por assuntos internos dos chineses. Foi desta forma que o Estado Tchu nos princípios do século VI a.C. se protegeu, por meio dessa muralha fronteiriça, dos ataques dos estado vizinhos do norte, e nos séculos seguintes os Estados Tchi e Vei seguiram seu exemplo. Por volta do ano 320 a.C., o mesmo fizeram os Chin, e uns dez anos mais tarde juntaram-se exemplos históricos os Tchau e os Yen. Em geral os muros teriam sido feitos de terra, com torres de vigilância. 
                 O Imperador Tchi Huang-ti (221 x 210 a.C. foi o primeiro a promover a construção de uma grande muralha com defesas viradas para o exterior; o principal objetivo era  manter os "bárbaros" e os "demônios" fora de seu território. As torres tinham cerca de 10 a 12 metros de altura por 6 metros de largura (em alguns lugares chega a 12 metros de largura) e eram ocupadas por sentinelas. 
                  O jovem imperador empregou, inicialmente, seu próprio exército nesta construção. Segundo conta a história tradicional ele ocupou a mão de obra de 300.000 soldados na grande obra. Conta-se também  que, para aumentar a rapidez da obra, mandou abrir as prisões e, assim, ladrões, assassinos e todo o tipo de criminosos conseguiram sua parcial liberdade. Mesmo assim não foi o suficiente para se chegar ao objetivo (rapidez) pretendido e então ele determinou que a população participasse. Centenas de milhares de trabalhadores forçados morreram de esgotamento ou de febre. 
                 No ano 209 houve uma grande revolta popular devido aos maus tratos e ás mortes em escala industrial. Soldados e trabalhadores forçados abandonaram o território fronteiriço; por essa razão os hunos, em pouco tempo, conseguiram conquistar os terrenos insuficientemente protegidos pela Grande Muralha, ainda em construção. As reações bélicas dos chineses não tiveram sucesso. Também de nada adiantava pagar tributos aos hunos; foi necessário promover casamentos entre princesas imperiais e os chefes hunos para apaziguar a situação. 
              O plano para construção de uma nova e mais duradoura muralha, de 3.290 quilômetros ("van-li-tchang-tchen") parece ter ocorrido somente no século XIV. 
           Para se ter uma ideia mais precisa sobre o tamanho da Grande Muralha seria imaginar que se pudesse esticar uma corda de um extremo a outro; levando esta corda para a Europa e estendendo-a aí, ela cobriria a distância que vai de Paris até quase o centro da Ucrânia (1840 quilômetros), e ainda se acrescentasse mais corda para compensar as curvas da Muralha, em seguida as esticasse outra vez\ de paris, iria além da cidade de Bagdá. 
               No Egito o povo (escravos e prisioneiros_ sofria semelhante ambição pela ignorância religiosa que, sobre intensa tortura, eram obrigados aos mais terríveis sofrimentos na construção das imensas pirâmides. 
                Na China, a mente que idealizou essa "monstruosa construção" foi o imperador Chi Huag-ti, filho de uma "bailarina ambulante" que quem o príncipe pai havia se enamorado.O jovem imperador subiu ao poder depois da morte do pai, no ano 246 antes de Cristo, com a tenra idade de 13 anos. Nas época a China era um reino de estados separados, que estavam sempre em pé de guerra. O jovem e ambicioso imperador empreendeu a tarefa de unificar esses estados para assim formar um poderoso império. Esse jovem possuía um dom especial para escolher excelentes generais e primeiros ministros. Nesta tarefa acredito que era orientado pela própria mãe que, sem dúvida, era muito esperta. Em sete anos, com auxílio destes, subjugou todos os seus vizinhos. Desde os limites do norte da China moderna  até o rio Iã-tsê e deste ao Mar Amarelo, indo até a província de "Szechwam", no Oeste; a sua palavra era a única lei. 
              Como todo o rei paranoico, vivia em permanente pânico, sentindo-se ameçado por tudo. A fim de impedir que seus inimigos tramassem a sua deposição, Chi levou os mais ricos e poderosos dentre eles para sua capital, Hsienyang. Seus importantes inimigos eram mantidos sob seu controle e para tal viviam no esplendor total, como senhores da corte, mas afastados dos seus fiéis seguidores. Chi construiu para eles palácios iguais aos seus. Esses palácios estavam situados num terreno que media 500 quilômetros quadrados, obedecendo a um desenho que reproduzia na terra o caminho celestial das estrelas da Via-Láctea. 
           Apesar disso, o imperador vivia inquieto, sempre com medo da morte. Um oráculo previra que sua queda seria provocada por "Hu", vocábulo que, entre outras coisas, significa bárbaro. Ele estava certo de que o vidente se referia aos bárbaros do Norte, que desde 500 anos antes eram o terror dos lavradores chineses. Deu tratos à imaginação procurando uma forma segura de proteger o império e assim a ideia fantástica de construir a gigantesca muralha intransponível. 
                Ninguém pode negar que se trata de uma maravilhosa obra de engenharia, mas que exigiu enormes sacrifícios do povo, e milhares pagaram com a própria vida. 
            Quase todas as pessoas fisicamente aptas foram recrutadas para trabalhar na construção da Grande Muralha. Obrigados sob constantes chicotadas dos capatazes, os operários, atemorizados, eram forçados a cavar dois fossos paralelos separados 7,50 metros, nos quais assentavam, depois, blocos de granitos e tijolos até a altura de seis metros. Enchiam de terra o espaço entre os fossos e finalmente levantavam um paralelepípedo de 1,50, em cima da Muralha. 
                Nos primeiros quinhentos quilômetros quase não encontraram um trecho de terreno plano, e os operários tinham de arrastar blocos por encostas muito íngremes. Mesmo nos cumes mais distantes as chicotadas dos capatazes garantiam que o corte e o acabamento dos blocos de granito fossem feitos com tanto esmero, como se destinassem ao palácio imperial de Chi. Engenheiros  modernos afirmam que a Grande Muralha dificilmente poderia ser sobrepujada atualmente em sua construção. 
                Os mensageiros enviados pelas famílias dos que trabalhavam na muralha, levando-lhes roupas e víveres, só muito raras vezes chagavam ao seu destino. Muitos ao chegarem no destino já não mais encontravam seus familiares, pois estes já haviam morrido. Outros nem chegavam até o destino pelo medo de também serem forçados a trabalhar. Os trabalhadores que ofereciam resistência ao recrutamento para trabalhar eram arrastados até a Grande Muralha  e enterrados vivos nela. Como alimentos eram escassos  e as roupas transformadas em farrapos, quase apodrecendo em vida, muitas adoeciam e morriam. Seus corpos iam ficando pelo chão, confundindo-se com a terra da Muralha, até que a transformaram no maior cemitério do mundo. Isto acontecia com a maior naturalidade, pois ninguém perdia tempo em fazer sepultamento digno. Os corpos simplesmente passavam a fazer parte do aterro da Muralha. 
              No oeste de Pequim havia um terreno que era um barreiro; aí, em vez de granito, tinham que amarrar entre si troncos muito pesados, com os quais formavam muitos paralelos, enchendo de terra o espaço entre eles. Um longa fila de operários, cada um carregando às costas um bambu com duas grandes cestas de terra suspensas nas extremidades eram utilizadas para irem enchendo o caminho, ao mesmo  tempo em que socavam a terra. Ao terminar cada seção, retiravam os troncos e continuavam a obra, sucessivamente, em  todo o percurso. A Grande Muralha mantinha-se em pé, toda feita de barro comprimido. 
               À medida em que parte da Grande Muralha ia sendo concluída, guerreiros eram colocados sobre ela. 
                Ao longo de toda a muralha e a intervalos de 1500 metros construíam-se os fortins, instalando-se um batalhão de soldados em cada um deles. Sempre havia arqueiros alerta com suas flechas nas torres salientes. Cada guerreiro tinha sob sua guarda 200 metros em ambos os lados; havia oito sentinelas cada quilômetro e meio. Uma grande guarnição achava-se permanentemente aquartelada atrás de todos os setores terminados. Reunidos, esses soldados formavam o primeiro exército regular do mundo, que alcançava um total de três milhões de homens. A cada um deles eram concedidas áreas de terreno pelos serviços prestados, as quais eles se dedicavam a lavrar nos intervalos livres de trabalho na Muralha.
                  A Muralha terminada percorria, em curvas atrevidas, a superfície da Terra; escalava montanhas de quilômetro e meio de altura, descia vales profundos, subia gargantas e atravessava rios. Sua construção terminava à beira de um precipício de 60 metros e á vista de um rio com águas de espumas brancas. 
            Não se sabe exatamente quanto tempo demorou a construção da muralha. Chi empregou uma quantidade enorme de trabalhadores e, além disso, incorporou-lhes muitos quilômetros  de outras muralhas já construídas anteriormente. Há um historiador que supõe ter a obra durado cerca de 18 anos; outros asseguram que só foi terminada por imperadores sucessivos, entre eles os próprios mongóis. 
                A Grande Muralha da China impediu invasões durante mais de 1400 anos. E, então, no século XII, surgiu o grande guerreiro mongol Genghis Khan. Tratava-se de um dos conquistadores mais terríveis que o mundo já conheceu; tomou de assalto a Grande Muralha e invadiu a China; mas nem mesmo ele conseguiu conquistá-la definitivamente. Depois de sua morte, seus sucessores foram expulsos. 
                Aos mongóis sucederam-se no poder os imperadores da dinastia "Ming". Durante 300 anos, estes reforçaram e acrescentaram novos trechos á Muralha. Os Manchus, outro povo mongol, procedente do Norte, abriram brechas em seus muros e, em 1644, após um cerco de 30 anos, apoderaram-se da China. O que resta hoje, em parte, da muralha original do imperador Chi e a maior parte dela é a que foi construída pela dinastia "Ming". Há setores que estão otimamente conservados, mas algumas das partes antigas foram reduzidas pelos ventos do Oeste a simples montões de terra. 
               Essa incrível muralha, que custou o sacrifício e a vida de uma geração, mas que, também, é certo, salvou uma centena de gerações, perdura e assim continuará por muito tempo. 
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