A verdadeira história contada por Joy Adamson.
Do filme "A História de Elsa
Do filme "A História de Elsa
O VERDADEIRO AMOR É AQUELE QUE LIBERTA.
A história de Ela começa num dia em que George, meu Marido, o mais antigo guarda caça da província setentrional do Quênia, na África, Oriental, estava em expedição na mata. Atacado por uma leoa desesperada, não lhe restou outro recurso senão abatê-la. Mas, quando examinou os despojos da magnífico animal, reparou em suas mamas cheias de leite, e compreendeu por que ela o havia atacado com tanta fúria e coragem; a fera defendia os filhotes.
Desolados, George e Nuru, nosso auxiliar-jardineiro somali, puseram-se a procurar os leõezinhos. Logo os descobriram, embolados sob um rochedo, e os trouxeram para casa. Eram fêmeas, com dois ou três dias, no máximo, três bolinhas de pelo malhado, que tentavam esconder a cara e evitar contato conosco. Seus olhos estavam ainda cobertos por um véu azulado. eu as pus no colo, para dar-lhes confiança.
Dois dias se passaram antes que nossas leoazinhas aceitassem qualquer alimento. Tentei todos os truques para fazê-las engolir um pouco de leite condensado sem assucar, mas consegui delas apenas um franzir dos pequenos focinhos. "Hon-hon", protestavam, um pouco como nós próprios fazíamos na infância, antes de aprender a dizer polidamente "não, obrigado". No entanto, quando afinal aceitaram um pouco de leite, não houve mais maneiras de satisfazê-las, e, cada duas horas,era preciso aquecer as mamadeiras.
A mais franzina das três leoas era também a mais orgulhosa e esperta, e tornou-se logo a nossa favorita. Dei-lhe o nome de Elza, porque ela me lembrava uma pessoa desse nome.
Nossas pequenas pensionista adaptaram-se rapidamente a sua nova residência. Seus olhos abriram-se em poucos tempo, mas elas não podiam ainda apreciar as distâncias, e frequentemente falhavam no procurar às apalpadelas os objetos. Para ajudá-las a vencer esta dificuldade, demos-lhes, a guisa de brinquedo, bolas de borracha e velhos pneumáticos. Qualquer coisa macia e flexível as encantava. Elas disputavam a câmara-de-ar, puxando-a com todas as forças, como num cabo-de-guerra. Ganha a batalha, a vencedora desfilava diante das outras com o troféu, a fim de provocar uma revanche. Se seu desafio não provocasse reação, ela depositava o objeto diante do nariz das rivais, fingindo deliberadamente ignorar que podiam roubá-lo.
A surpresa constituía o elemento mais importante de todos os seus jogos. Desde a mais tenra infância elas praticavam entre si (quando não era à nossas custas) a caça de tocaia, manifestando por essa técnica dons inatos extraordinários. Atacavam sempre por trás; mantendo-se ocultas, achatavam-se contra o chão, rastejavam lentamente em direção à vítima desprevenida, e então, rápidas como o raio, lançavam-se ao ataque e aterrizavam no lombo da presa, que prendiam contra o solo com todo o seu peso. Quando éramos nós o objeto de tais agressões, fingíamos sempre ignorar o que se prepara; agachávamos gentilmente, olhando para outro lado, até o assalto final, o que encantava nossas "gatonas".
À medida que tomavam consciência de sua força, tentavam tudo que se apresentava. Por exemplo, elas não podiam ver um todo de lona, por maior que fosse, sem puxá-los de todos os lados, e, resolvendo a questão de maneira tipicamente felina, embolavam-no afinal sob o corpo, arrastando-o entre as patas dianteiras, como haveriam de fazer mais tarde, em vida adulta, para transportar uma presa morta.
O brinquedo predileto delas era um saco de pano cheio de velhas câmaras-de-ar, que nós pendurávamos em um galho de árvore, onde ele ficava a balançar-se atraentemente. O saco tinha presa uma corda, que puxávamos tão-logo as leoazinhas se agarravam a ele, o que as projetava no ar. Nossos risos tinham o dom de aumentar o vivo prazer que lhes causava esse jogo violento.
Nossas jovens feras eram também maravilhosas trepadoras; a coisa de que mais gostavam era de subir em árvores.
Com cinco meses de idade, nossas alunas estavam em esplêndida forma, e ficavam cada dia mais vigorosas. A grande afeição que tínhamos por elas não nos impedia de constatar que é impossível ter em casa três leoas em pleno crescimento. A contragosto decidimos confiar as duas menores ao zoológico de Roterdã, na Holanda, e guardar apenas a nossa favorita.
A partida de suas irmãs abalou Elsa. Dias a fio, com o olhar pedido na mata, ela as chamava. Seguía-nos em toda a parte, temendo, evidentemente, que nós também a abandonássemos. Para consolá-la permitimo-lhe entrar em casa. Ela chegava a deitar-se em nossa cama, e muitas vezes nos acordava lambendo-nos o rosto com a língua áspera. No entanto, não faltavam animais selvagens, em torno de nossa casa, e Elsa cedo fez conhecimento com todos. Ela ignorava o medo, e era perfeitamente capaz de atacar sozinha uma manada de elefantes. As girafas eram igualmente um grande motivo de divertimento. Um belo dia, tremendo de excitação, o corpo achado contra o solo, ela pô-se de tocaia e avançou cautelosamente. Com os longos pescoços displicentemente arqueados, as girafas não prestavam a menor atenção a suas manobras. "Por que", parecia ela dizer, "vocês ficam aí plantadas como bobas, ao invés d entrar no jogo?" Mas, em certa ocasião, parece que ela imaginou que nós, ficando lá a espiá-la, é que tínhamos feito falhar sua tocaia, porque se lançou colericamente sobre nós e nos derrubou!
A alimentação de Elsa consistia,desde essa época, quase exclusivamente de carne crua. Depois das refeições, ela geralmente estendia-se numa cama de campanha para tirar uma soneca.
A leoa crescia. Tinha agora quase dois anos, e estava ficando adulta. Sua voz quebrava-se às vezes num rugido rouco, profundo, o pelame tinha adquirido um pronunciado lustro fulvo, e acontecia ela deixar-nos por dois ou três dias. Nós sabíamos então que ela tinha ido encontrar outros leões. Mas era a nós que ela voltava sempre, em busca de comida. Permanecíamos "seu grupo", e nosso lar era seu.
É claro que tínhamos sempre sabido que não poderíamos guardar indefinidamente Elsa. Nossa primeira ideia fora enviá-la para juntar-se às irmãs no zoológico de Roterdã, mas suas últimas escapadas levaram-nos a modificar nossos projetos. Dado que ela parecia tão bem adaptada à selva, e que os animais selvagens admitiam sua presença, ela nos parecia poder ser a exceção que confirma a regra. Diz-se, com efeito, que um animal criado e cuidado pelo homem é sempre repelido pelos seus congêneres por causa de seu odor humano.
Se pudéssemos restituir nossa amiga à sua espécie, evita-lhe-íamos uma vida de cativeiro que a privaria de tudo que lhe reserva normalmente a natureza. Decidimos, portanto, levar Elsa a uma região rica de caça, passar aí com ela duas ou três semanas, para ensinar-lhe a prover por si mesma suas necessidades, e só então, se tudo se passasse como esperávamos, abandoná-la, tanto para seu bem como para o nosso, à vida selvagem.
Logo que chegamos ao lugar escolhido, tiramos de Elsa a coleira, para mostrar-lhe que, doravante, ela era livre. Elsa trepou de um salto para o teto do Land Rover e partimos em exploração.
Um dia, surpreendemos um jovem e soberbo leão devorando a carcaça de uma zebra. Eis o marido ideal para Elsa, pensamos nós. Ele pareceu um pouco espantado por ver uma leoa instalada sobre o teto de um veículo. Mas havia comido carne fresca até fartar-se e não fez nenhuma objeção a dividir sua presa com a visitante, que saltou do teto e precipitou-se gulosamente sobre a carcaça. Agindo da maneira mais sub-reptícia do mundo, fugimos a toda a velocidade, deixando-a em tête-a-tête com o leão.
Na manhã seguinte, partimos bem cedinho para visitá-la, na esperança de descobrir um casal feliz. Mas ai! a pobre Elsa, sozinha, esperava-nos no mesmo lugar onde a havíamos deixado. Ela manifestou uma alegria transbordante quando nos viu, lambeu-me as mãos com frenesi, e colou-se a mim.
Visivelmente, ela ainda dependia muito de nós. Alguns dias mais tarde, escolhemos um novo território, um belo lugar atravessado por um rio onde muitos animais selvagens vinham beber.
Elsa tinha sido ensinada a trazer a caça que matávamos. Mas, até então, nós lhe tínhamos sempre dado a carne previamente cortada. Assim, nós não tínhamos certeza de que ela saberia lidar, em plena natureza, com o cadáver de uma presa. Ficamos ao mesmo tempo surpresos e felizes ao descobrir a firmeza do seu instinto, neste particular. No entanto, ela nunca tinha caçado por conta própria. Nossa permanência à beira do rio durou o tempo suficiente para que Elsa aprendesse por si própria o que sua mãe lhe teria ensinado. A princípio, nós fomos obrigados a matar para ela, mas logo aprendeu a fazê-lo sozinha. Quando todas as condições nos pareceram afinal reunidas para que Elsa se pudesse safar sem nós, tomamos a resolução de deixá-la por oito dias.
Enquanto fazíamos as malas, Elsa nos observava como se farejasse na atmosfera alguma coisa insólita.
Nós nos tínhamos habituado à ideia dessa separação razoável, indispensável, e esperávamos que mela valesse a Elsa um futuro mais feliz, de acordo com as leis da natureza. Apesar disso, no momento de romper o último vínculo, tínhamos, meu marido e eu, o coração bem pesado.
Percorremos 15 quilômetros de jipe até outro rio, às margens do qual acampamos durante uma semana. À tarde, durante meus passeios, sentia a falta de Elsa a meu lado. Ela não vinha mais esfregar a cabeça em mim, e eu tinha saudade da maciez de seu pelo e do calor de seu corpo.
A semana acabou-se, afinal, e voltamos a nosso primeiro acampamento, para ver somo a leoa tinha suportado a prova. Logo que chegamos, procuramos pelas pegadas, mas não as achamos. Chamei-a. Pouco depois, ouvimos seu "rong-rong" familiar, e vimo-la vir, correndo a toda velocidade pela margem do rio. Sua acolhida provou-nos que a falta que havia sentido de nós fora tão grande quanto a nossa saudade dela.
Enquanto as tendas eram erguidas, conduzi-a à margem do rio, onde repousamos juntas. Eu estava tranquila, porque sentia que o futuro dela estava assegurado. Seus sentimentos deviam ser idênticos, já que pôs sobre mim sua grande pata macia e adormeceu mansamente.
À tarde, ela se foi. Ao fim de alguns dias, decidimos levantar acampamento. Na última manhã, vimo-la com o binóculo, trepada no seu rochedo favorito. Aproximamo-nos, mais, embora reagisse a nossas chamadas, não se moveu do lugar.
Se ela pudesse falar, não teria maneira mais clara e comovente de exprimir seu desejo de permanecer solitária.
Quando os dois veículos de nossa excursão passaram sob o rochedo, a silhueta de Elsa de destacava contra o céu. Ela seguiu-nos longamente com o olhar.
Depois dessa separação, visitamos Elsa a cada dois ou três meses. Ela parecia sempre feliz de nos ver. As carícias e "miaus" com que nos acolhia tocavam-nos profundamente. Mas, evidentemente, não tinha mais necessidade alguma de nós.
Não foi com o coração alegre que nos separamos de Elsa, mas para devolvê-la à liberdade. No entanto, tínhamos sempre esperado que ela acharia um marido e que um dia a veríamos chegar em nosso acampamento seguida de toda a sua família. Imaginem qual foi nossa alegria quando, alguns meses após, Elsa atravessou o rio a nado para juntar-se a nós. Nossa leoa favorita estava acompanhada de três magníficos leõezinhos.
Ela voltou à mata, mas nos trazia frequentemente os filhotes em visita. Eles aprenderam a apreciar a maior parte das brincadeiras de que gostava sua mãe quando era criança.
Mas ai! em janeiro de 1961, Elsa caiu doente e morreu tranquilamente, em nossa casa. Depois de sua morte, os filhotes deram-se ao mau hábito de atacar o cago e as cabras dos indígenas. Para não ter que abater a família de Elsa, capturamos os leõezinhos. Prendemo-los em grandes caixas com respiradouros e atravessamos cerca de trezentos quilômetros de savana para soltá-los no Parque Nacional de Serengeti, na Tanzânia, onde vivem agora felizes em liberdade.
Nós nos tínhamos habituado à ideia dessa separação razoável, indispensável, e esperávamos que mela valesse a Elsa um futuro mais feliz, de acordo com as leis da natureza. Apesar disso, no momento de romper o último vínculo, tínhamos, meu marido e eu, o coração bem pesado.
Percorremos 15 quilômetros de jipe até outro rio, às margens do qual acampamos durante uma semana. À tarde, durante meus passeios, sentia a falta de Elsa a meu lado. Ela não vinha mais esfregar a cabeça em mim, e eu tinha saudade da maciez de seu pelo e do calor de seu corpo.
A semana acabou-se, afinal, e voltamos a nosso primeiro acampamento, para ver somo a leoa tinha suportado a prova. Logo que chegamos, procuramos pelas pegadas, mas não as achamos. Chamei-a. Pouco depois, ouvimos seu "rong-rong" familiar, e vimo-la vir, correndo a toda velocidade pela margem do rio. Sua acolhida provou-nos que a falta que havia sentido de nós fora tão grande quanto a nossa saudade dela.
Enquanto as tendas eram erguidas, conduzi-a à margem do rio, onde repousamos juntas. Eu estava tranquila, porque sentia que o futuro dela estava assegurado. Seus sentimentos deviam ser idênticos, já que pôs sobre mim sua grande pata macia e adormeceu mansamente.
À tarde, ela se foi. Ao fim de alguns dias, decidimos levantar acampamento. Na última manhã, vimo-la com o binóculo, trepada no seu rochedo favorito. Aproximamo-nos, mais, embora reagisse a nossas chamadas, não se moveu do lugar.
Se ela pudesse falar, não teria maneira mais clara e comovente de exprimir seu desejo de permanecer solitária.
Quando os dois veículos de nossa excursão passaram sob o rochedo, a silhueta de Elsa de destacava contra o céu. Ela seguiu-nos longamente com o olhar.
Depois dessa separação, visitamos Elsa a cada dois ou três meses. Ela parecia sempre feliz de nos ver. As carícias e "miaus" com que nos acolhia tocavam-nos profundamente. Mas, evidentemente, não tinha mais necessidade alguma de nós.
Não foi com o coração alegre que nos separamos de Elsa, mas para devolvê-la à liberdade. No entanto, tínhamos sempre esperado que ela acharia um marido e que um dia a veríamos chegar em nosso acampamento seguida de toda a sua família. Imaginem qual foi nossa alegria quando, alguns meses após, Elsa atravessou o rio a nado para juntar-se a nós. Nossa leoa favorita estava acompanhada de três magníficos leõezinhos.
Ela voltou à mata, mas nos trazia frequentemente os filhotes em visita. Eles aprenderam a apreciar a maior parte das brincadeiras de que gostava sua mãe quando era criança.
Mas ai! em janeiro de 1961, Elsa caiu doente e morreu tranquilamente, em nossa casa. Depois de sua morte, os filhotes deram-se ao mau hábito de atacar o cago e as cabras dos indígenas. Para não ter que abater a família de Elsa, capturamos os leõezinhos. Prendemo-los em grandes caixas com respiradouros e atravessamos cerca de trezentos quilômetros de savana para soltá-los no Parque Nacional de Serengeti, na Tanzânia, onde vivem agora felizes em liberdade.
Tudo indica que os leões serrão extintos da face da terra. Há 50 anos havia cerca de 450 mil leões; hoje só exite 15 mil.
O ser humano é o pior dos animais que a natureza criou. Com o desenvolvimento do cérebro, dominou todos os outros animais da terra e já exterminou a maioria deles; em 15 anos terá atingido a absurda cifra de 8 bilhões de pessoas. Ocupam todos os espaços disponíveis e não se preocupam com a fauna e o meio ambiente. Procriam como coelhos e não tem predadores. Somente a própria natureza poderá contê-los.
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